Título: Serra terá Plano dos 100 Dias, para estrear sob signo do desenvolvimento
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2006, Nacional, p. A14

O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), está preparando um ¿Plano dos 100 Dias¿ para desfechar, a partir de 1º de janeiro, uma série de medidas políticas, administrativas e econômicas que marquem o início de obras importantes de infra-estrutura e indiquem à sociedade sua opção preferencial pelo desenvolvimento. Serra determinou que o plano deve abranger todas as principais áreas de seu governo, e o principal anúncio será a viabilização econômica do trecho sul do Rodoanel.

O futuro governador quer, com o plano, demarcar estilo, forma e conceito de uma administração objetivamente voltada para o crescimento. Ele acertou com o governador Cláudio Lembo que o atual governo vai acelerar as providências burocráticas para algumas grandes licitações, como no caso do trecho sul do Rodoanel. O governo Lembo já providenciou as etapas iniciais do projeto e marcou as necessárias audiências públicas, deixando tudo pronto para que as licitações sejam anunciadas em 1º de janeiro.

O conjunto de providências que Serra anunciará em 1º de janeiro inclui algumas medidas que determinam realizações e outras que anunciam a viabilização econômica de obras que até aqui estavam encravadas. Ele guarda a sete chaves outros anúncios impactantes que também fazem parte do plano.

Serra não está preocupado em deflagrar obras que tenham rápida conclusão, mas em produzir medidas administrativas e políticas que integrem um grande projeto de desenvolvimento que ele pretende comandar e implantar nos quatro anos de seu governo. E quer mostrar, desde o primeiro dia de governo, que está comprometido com esse projeto.

HERANÇA Serra vai receber de Cláudio Lembo - que é do PFL e cumpriu mandato de nove meses - um Estado que está sendo administrado pelo mesmo partido, o PSDB, há 12 anos. É um Estado de números superlativos: 38,7 milhões de habitantes (20,6% do Brasil), 28 milhões de eleitores (22,3% do total brasileiro), um PIB de R$ 546,6 bilhões (em 2004, 30,9% do País), um Orçamento de R$ 84,56 bilhões (R$ 3,27 bilhões a mais que em 2006), uma dívida consolidada de R$ 111,6 bilhões e uma capacidade de investimento prevista para 2007 de R$ 7,7 bilhões.

O futuro governador tem uma atenção especial para receitas que levem a expandir essa capacidade de investimento. Ele tem trabalhado na criação de fórmulas que permitam intervir de forma mais substantiva no crescimento do Estado.

A falta de crescimento, tão cobrada do governo Lula, também atinge São Paulo, cuja participação no PIB nacional vem sendo reduzida pela desconcentração de investimentos. A participação do PIB paulista no total nacional, que já foi de 36,1%, em 1985, caiu para 30,9%, em 2004. A agroindústria, símbolo da expansão produtiva do interior paulista, se deslocou para as novas fronteiras agrícolas do Centro-Oeste e do Norte, porque São Paulo não tem mais espaço para ampliar suas fronteiras agrícolas.

Parte da indústria de transformação seguiu no rumo do Sul e do Nordeste. Mesmo assim, de 2003 para 2004 São Paulo cresceu 6,4%, bem acima do País, que registrou 4,9%. Os especialistas afirmam que São Paulo deve liderar a retomada do crescimento, quando ele vier, e esta é, também, a aposta que Serra faz.

Um exemplo claro da capacidade econômica de São Paulo - a despeito da perda gradativa de volume no PIB - é que, apesar da fuga de muitos capitais na área do agronegócio, sua parte essencial segue em São Paulo e elevou sua participação no PIB do setor de 18,2%, em 2000, para 23,9%, em 2003.

Por conhecer a dimensão da economia paulista, Serra coloca muitas fichas na ampliação das parcerias público-privadas (PPPs), área em que o governo federal vai mal e o governo paulista tem uma experiência para a linha 4 do metrô paulistano.

PRECATÓRIOS

Mas nem tudo são flores. O novo governador encontrará, por exemplo, um estoque nada favorável de R$ 14 bilhões de precatórios em atraso - R$ 13.969.506.008,98, segundo levantamento feito pela Procuradoria-Geral do Estado. Em 2006, o Estado pagou R$ 289 milhões em precatórios, mas não conseguiu descontar o atraso médio de oito anos. Outra bomba-relógio que ameaça a estrutura econômica do Estado é a Previdência estadual.