Título: Para elas, real forte não é um problema
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2006, Economia, p. B6

O câmbio e a China, apontados como os dois grandes flagelos da indústria brasileira, têm encontrado adversários à altura em empresas nacionais como a Randon, que vêm aumentando velozmente suas exportações mesmo com a forte valorização do real nos últimos anos.

Muitas dessas empresas industriais que têm prosperado em meio ao ambiente brutalmente competitivo da economia globalizada podem ser encontradas no setor metalomecânico e elétrico.

'Com esse câmbio que está aí, vamos continuar a expandir nossas exportações, e já estamos retornando aos níveis normais de rentabilidade', diz Astor Milton Schmitt, diretor corporativo da fabricante gaúcha de caminhões gigantes, retroescavadeiras, reboques e autopeças e sistemas para as montadoras de veículos comerciais. As exportações da Randon saíram de US$ 75 milhões para mais de US$ 200 milhões entre 2003 e 2006, num período em que o câmbio real médio valorizou-se de R$ 2,99 para R$ 2,15.

O diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Antonio Barros de Castro, observa que 'o tecido industrial do Brasil preserva empresas que acumularam um patrimônio de competências reconhecido mundialmente, que envolve saber fazer, tecnologia, comercialização e a capacidade de avançar internacionalmente, ocupando brechas'.

Esses fabricantes de produtos altamente diferenciados colocam em xeque a tese de que a inundação de dólares na esteira do boom de exportações de minérios, aço, celulose, petróleo e produtos do agronegócio - que levou à forte valorização do real - esteja tornando inviável a competitividade global da indústria brasileira.

Ninguém discute o fato de que setores como a indústria têxtil, de calçados, de móveis e de brinquedos estão seriamente ameaçados pelo real valorizado e pela competição chinesa no mercado externo e no nacional. Em outros segmentos, porém, fatores como tecnologia, gestão e confiabilidade compensam em parte a desvantagem brasileira em termos de preços, causada pelo câmbio.

'Nossa empresa exporta por causa da qualidade, da competência para entregar nos prazos e da carência do mundo por equipamentos, mas não pelos nossos preços, que não estão competitivos', diz Jandir Cantele, diretor-presidente da Intecnial, fabricante de bens de capital sob encomenda localizada em Erechim (RS).

Atendendo a setores como os de agronegócio, química e petroquímica, celulose, estaleiros e biodiesel, a Intecnial está em fase de forte expansão, com previsão de elevar seu faturamento de R$ 160 milhões em 2006 para R$ 400 milhões em 2007.

'Há muito otimismo no segmento no qual estamos focados, e prevemos que os próximos anos serão maravilhosos', diz Cantele. Ele explica que as exportações da Intecnial oscilam muito, já que dependem de grandes projetos, que não aparecem de forma regular. Em 2004, em função de encomendas de duas das maiores fábricas de esmagamento de soja do mundo, na Argentina, as exportações chegaram a 60% do faturamento. Em 2006, os projetos externos devem ser menores, mas Cantele vê grande espaço para as exportações nos próximos anos na América Latina, em países como Venezuela, Colômbia e Chile. 'Há muitas oportunidades na vizinhança.'