Título: Modelo de expansão das companhias aéreas agrava crise dos aeroportos
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2006, Economia, p. B14

Passageiros reclamando da falta de informações, protestos na pista, balcões depredados. Queridinhas das bolsas de valores, batendo recordes de lucros, TAM e Gol estão passando pela pior crise do setor aéreo com belos arranhões na imagem perante seus passageiros.

'A arrogância com que Gol e TAM têm tratado o consumidor é reflexo do poder de mercado que elas têm', diz a economista do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Lucia Helena Salgado. 'O consumidor não tem alternativa. E, como em qualquer situação de ausência de concorrência dinâmica, as companhias negligenciam o consumidor.'

Ainda que as empresas também tenham sido vítimas dos atrasos e cancelamentos detonados pela operação padrão de controladores de vôo - com prejuízos estimados em R$ 4 milhões por dia -, ao optarem por um modelo de operação que trabalha no limite, elas também contribuíram para o caos.

O modelo de operação introduzido pela Gol e seguido pela TAM está baseado na utilização máxima dos aviões, que ficam no ar, em média, 14 horas (Gol) e 13 horas (TAM). Bastante eficiente do ponto de vista financeiro, esse padrão de uso de aeronaves é o grande responsável pelo efeito dominó dos atrasos nos aeroportos do País nas últimas semanas. Se o mesmo avião está programado para dois ou três vôos num mesmo dia, um quadro de mau tempo no Sul pode provocar atrasos em Manaus, por exemplo.

Na busca da redução de custos e maximização de lucros, as duas encomendaram aviões ultramodernos - e também ultra-apertados. Foi-se o tempo em que o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, exibia seus Airbus como os mais confortáveis do mercado. Os novos A320 da TAM estão mais apertados, com uma fileira a mais de assentos. O mesmo acontece com os novos 737-800 que a Gol encomendou à Boeing. As empresas se defendem, argumentando que novas tecnologias de assentos - mais finos e mais leves - permitem adicionar mais fileiras sem reduzir (muito) a distância entre as poltronas.

Utilização máxima de frota e aviões apertados são características de empresas low cost (baixo custo). Mas, enquanto no resto do mundo as low cost têm serviço complementar ao oferecido pelos grupos tradicionais, no Brasil TAM e Gol têm o poder de mercado das tradicionais, com serviços de low cost.

'O avião foi feito para voar', defende-se o diretor de Assuntos Governamentais do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), Anchieta Hélcias, ao ser questionado sobre o modelo de utilização máxima das aeronaves adotado pela TAM e pela Gol. Segundo ele, 'não se pode criticar as companhias por serem eficientes'.