Título: PF começa a investigar amigo de Barjas Negri
Autor: Macedo, Fausto e Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2006, Nacional, p. A10

A Polícia Federal abriu ontem inquérito para investigar o ex-ministro da Saúde Barjas Negri (no governo FHC) e o empresário Abel Pereira. Eles teriam sido beneficiários de transações promovidas pelo grupo de Luiz Antônio Vedoin, fundador da máfia das ambulâncias superfaturadas. A acusação é do próprio Vedoin. A investigação, que nestes dias finais de campanha deixa preocupadas algumas lideranças tucanas, foi aberta com base em requerimento do procurador da República Mário Lúcio Avelar, que acompanha o inquérito da PF sobre envolvimento de petistas na compra do dossiê contra anti-José Serra, do PSDB.

A ofensiva do procurador afasta suspeitas lançadas por quadros do PT de que ele estaria agindo atendendo interesses do PSDB. 'Aqui não tem PT nem PSDB, tem é investigação imparcial, isenta, independente', declarou Avelar. Ele requereu à Justiça a quebra do sigilo bancário e telefônico de Abel e mandou apreender a agenda de Barjas Negri relativa ao período de novembro e dezembro de 2002. Além disso, solicitou cópias dos empenhos liquidados pelo Ministério da Saúde de janeiro a dezembro de 2002 (último ano da gestão FHC) e também de 2003 (primeiro ano do governo Lula).

Em Piracicaba, Abel disse ontem que tem pressa de ser ouvido no inquérito. 'Espero ser ouvido o mais rápido possível, em razão das inverdades de que me acusam', reagiu. Segundo ele, sua família está assustada e sofrendo em razão do teor 'mentiroso' das acusações. Barjas Negri, hoje prefeito de Piracicaba (SP), também refuta envolvimento com os Vedoin.

NA FAZENDA

Abel negou a intermediação no negócio das ambulâncias mas voltou a comentar que esteve em Cuiabá duas vezes em agosto, nos dias 14 e 24 , para tratar de assuntos ligados a uma fazenda que tem no município de Jaciara. 'Eu estava providenciando algumas certidões da minha produção na fazenda.'

Afirmou ainda que, embora seja amigo de Barjas, esteve no Ministério da Saúde apenas uma vez durante sua gestão - e não sabe como seu nome foi parar no dossiê. 'Há um grande jogo político em tudo isso', ponderou. E disse que a suspeita de que seu sigilo bancário e fiscal foi quebrado pode ser verdadeira. 'Minha vida privada está sendo devassada, não sei com que interesse.'

'Os fatos indicam, em princípio, que o esquema delituoso patrocinado pela família Vedoin operou também na gestão do governo anterior', diz Avelar. Para ele, indícios demonstram que 'a liberação de recursos dependia de negociações escusas com o alto escalão do Ministério da Saúde.' Assim, além da quebra do sigilo bancário e fiscal de Abel Pereira, também pediu o mesmo para Mário J. Martignago - suposto elo de Abel com os Vedoin para captação de recursos ilícitos - e das pessoas jurídicas Kanguru F. Sociedade de Fomento Ltda., Datamicro Info Ltda e IREPR Turísticas Ltda.