Título: Bush acusa democratas de manipulação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2006, Internacional, p. A16

Irritado com o que disse ser 'uso eleitoral' por parte dos democratas de trechos de um relatório de inteligência - elaborado por 16 agências dos EUA e divulgados parcialmente pela imprensa no domingo -, o presidente dos EUA, George W. Bush, contra-atacou e anunciou ontem a liberação de outras conclusões do documento que demonstrariam o acerto da decisão de atacar o Iraque como estratégia de sua guerra contra o terror.

Num desses trechos divulgados ontem, no que poderia ser interpretado como um endosso à política de Bush para a região, o documento conclui que uma derrota dos radicais no Iraque 'poderia ser definitiva na luta antiterror'. 'Se os extremistas abandonarem o Iraque percebendo-se e sendo percebidos como derrotados, acreditamos que menos combatentes se inspirarão para seguir na luta', diz o trecho.

Apenas três páginas e meia do documento de 30 páginas foram divulgados ontem. Outros trechos devem ser divulgados ainda nesta semana, mas o relatório não será divulgado na íntegra por razões de segurança, segundo a Casa Branca.

Desde domingo, quando os grandes jornais dos EUA divulgaram partes do relatório, os democratas utilizam os dados do vazamento para dar base à tese de que a guerra no Iraque ajudou a disseminar o extremismo islâmico, criou uma nova geração de células terroristas e ampliou a ameaça de ataques terroristas no mundo.

Bush se mostrou irritado pelo fato de o relatório ter sido concluído em fevereiro, mas divulgado só agora, a seis semanas das eleições legislativas de 7 de novembro. 'Mais uma vez há um vazamento que se dá em meio a esta campanha com o objetivo de confundir a mente dos americanos', afirmou Bush. A forte rejeição popular à guerra no Iraque é o maior problema para que os republicanos mantenham o controle das duas Casas do Congresso.

'Alguns estão conjecturando que o relatório conclui que ir ao Iraque foi um erro. E eu discordo profundamente disso', disse Bush. 'É um erro pensar que ir à ofensiva contra gente que quer causar danos aos EUA nos fez mais vulneráveis.'

Na segunda-feira à noite, o chefe de inteligência, John Negroponte, admitiu que após a invasão do Iraque o número de campos de treinamento de grupos radicais tinha aumentado e reconheceu que o relatório menciona isso. Mas desmentiu que a ameaça direta aos EUA tivesse aumentado por causa da decisão de atacar o país.

'Queremos ter certeza de que nossas ações no Iraque e no mundo são capazes de conter e destruir a ameaça terrorista', declarou o número 2 da bancada democrata no Senado, Dick Durbin. 'O que o relatório sugere é exatamente o contrário: que nossa estratégia aumentou o problema.'

CONDOLEEZZA

Num dia de ferozes trocas de acusações entre republicanos e democratas, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, qualificou de 'infundadas' as críticas do ex-presidente democrata Bill Clinton de que a administração Bush negligenciou o combate à rede terrorista Al-Qaeda nos oito meses que se antecederam ao 11 de Setembro. 'O que fizemos em oito meses foi, pelo menos, tão agressivo quanto fez a administração Clinton nos oito anos anteriores', disse.

Condoleezza também se voltou para o plano externo e partiu para o ataque contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez. 'A entrada da Venezuela no Conselho de Segurança da ONU acabaria com o consenso no organismo', afirmou a secretária.