Título: Pedido de prisão põe fim à trégua entre PF e MP
Autor: Macedo, Fausto e Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2006, Nacional, p. A10

A ofensiva secreta do Ministério Público Federal para prender Freud Godoy, ex-guarda-costas do presidente Lula, e outros dirigentes do PT envolvidos na trama do dossiê anti-José Serra, do PSDB, pôs fim à trégua, que já era tênue, entre a Procuradoria da República e a Polícia Federal.

'O procurador não nos consultou, tomou uma atitude isolada, atropelou e atrapalhou a investigação', acusou Geraldo Pereira, superintendente em exercício da PF em Mato Grosso, onde está centralizada a operação para identificar a origem de R$ 1,75 milhão, em dólares e reais, com os quais o PT pretendia comprar o dossiê.

Mário Lúcio Avelar é o procurador encarregado do caso. É dele o pedido sigiloso à Justiça Federal para prisão em caráter temporário de Freud e também de Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso, Oswaldo Bargas, Valdebran Padilha e Gedimar Passos, personagens do golpe que não deu certo porque a PF prendeu os dois últimos em São Paulo, há duas semanas, de posse do dinheiro.

Na noite de segunda-feira, pouco depois das 21h, Avelar protocolou o pedido de custódia temporária contra o grupo. Adverci Mendes de Abreu, juíza federal, estava de plantão àquela hora. Ela se convenceu dos argumentos do procurador e mandou expedir os mandados de prisão.

Os mandados chegaram à PF por volta de 1h30 da madrugada da terça, mas esbarraram numa questão legal - o Código Eleitoral. Quando foi avisado da determinação judicial, Geraldo Pereira não permitiu que as equipes de busca saíssem atrás dos suspeitos. Ele anotou que o decreto judicial não tem eficácia por ora - o artigo 236 do Código Eleitoral proíbe prisões, exceto nos casos em flagrante, 5 dias antes e até 48 horas depois do pleito.

'É muito fácil pedir prisão quando não se pode prender', declarou o delegado. 'A PF não considera necessárias essas prisões, pelo menos por enquanto. Agora as pessoas citadas já sabem e poderão ocultar provas.' Pereira disse que 'a investigação é da PF' e a Procuradoria da República 'está pegando uma carona'.

O que o surpreendeu é que na semana passada a Justiça Federal já havia rejeitado um primeiro pedido do procurador com relação à prisão dos implicados. A decisão anterior foi tomada pelo juiz Marcos Tavares, da 2ª Vara Federal de Cuiabá. Ele considerou 'completamente desnecessária' a medida.

Avelar reiterou o pedido, perante o plantão da Justiça Federal, sob argumento de que os petistas que protagonizaram a trama teriam caído em contradições quando prestaram depoimento, sexta-feira. Defendeu a prisão para que fosse realizada uma acareação. 'Existe uma investigação, ela vai parar por causa da Lei Eleitoral?'

A defesa tentará revogar as ordens de prisão por meio de pedido de reconsideração. 'A decisão de mandar prender Freud é absolutamente equivocada', reagiu o criminalista Augusto Botelho.