Título: Para iraquianos, violência cairá após saída das tropas dos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2006, Internacional, p. A15

A maioria da população iraquiana quer a saída imediata do país das forças de ocupação lideradas pelos Estados Unidos. É o que apontam duas pesquisas sob supervisão americana realizadas no Iraque e divulgadas ontem.

A sondagem do Departamento de Estado americano, obtida pelo jornal The Washington Post, revelou que quase 75% dos habitantes de Bagdá se sentiriam 'mais seguros' se as tropas de ocupação saíssem do país. Para 65% dos entrevistados, a retirada tem de ser imediata. Foram ouvidos 1.870 iraquianos. Em todas as regiões do Iraque, o percentual pró-retirada fica em torno de 60%, exceto em áreas de predominância curda - onde apenas 6% apóiam a saída agora dos americanos.

A outra pesquisa, realizada por um instituto ligado à Universidade de Maryland, revelou que 71% dos iraquianos querem que as forças estrangeiras deixem o país no prazo de um ano. Entretanto, a maioria das 1.150 pessoas entrevistados acredita que os EUA se recusariam a sair nesse período.

INCAPACIDADE

O mesmo instituto confirmou o crescimento do número de iraquianos contrários à presença no país das tropas americanas. Em janeiro, um levantamento mostrou que 47% eram a favor dos ataques dos insurgentes às forças de ocupação. No estudo divulgado ontem, esse número cresceu para 61%.

Desde a invasão do país, em março de 2003, cerca de 45 mil pessoas já morreram no Iraque. Apenas ontem, ataques em diversas áreas do país deixaram mais de 60 mortos.

'O fato de haver um apoio tão baixo às forças americanas está relacionado à incapacidade dos EUA em fazer qualquer coisa pelos iraquianos ', disse Mansoor Moaddel, professor de sociologia da Universidade Eastern Michigan. No início do ano, ele acompanhou uma pesquisa semelhante no Iraque, que também revelou um grande apoio pela saída das tropas. 'É parte da natureza humana. Pessoas respeitam autoridade. Os EUA não conseguiram estabelecer uma autoridade real.'

Entrevistas recentes com moradores de Bagdá sugerem que a causa principal para a desconfiança dos iraquianos é que eles acreditam que os EUA estão criando uma guerra civil para assim terem um pretexto para permanecerem no Iraque.

Os resultados das duas pesquisas - que figuram entre as reações mais negativas contra as forças estrangeiras - contrastam com as opiniões do primeiro-ministro, Nuri al-Maliki, e do presidente do Iraque, Jalal Talabani, que endossam a presença americana.

BARREIRA

A Arábia Saudita avançou ontem no seu plano de construir uma cerca na fronteira com o Iraque. O objetivo é barrar a entrada de terroristas e evitar que a violência iraquiana respingue no país.

NÚMEROS DAS PESQUISAS

65% dos iraquianos querem a saída imediata das tropas americanas

75% dos moradores de Bagdá se sentiriam mais seguros se as forças de ocupação deixassem o país, de acordo com pesquisa do Departamento de Estado

71% dos iraquianos querem que as forças estrangeiras deixem o país em um ano

37% querem a retirada americana em no máximo seis meses, segundo pesquisa da Universidade de Maryland