Título: Lacerda livra Mercadante e nega ter levado dinheiro
Autor: Baraldi, Paulo e Filgueiras, Sônia
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2006, Nacional, p. A10

Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, negou ter sido um dos portadores do dinheiro destinado ao dossiê Vedoin. Ele insistiu em que a maleta que carregava nas imagens gravadas pelo circuito interno de segurança do Hotel Íbis, em São Paulo, continha apenas material de campanha, roupas e laptop. Lacerda depôs por cerca de quatro horas na superintendência da PF em São Paulo.

O ex-coordenador foi identificado pela PF como o homem que teria levado dinheiro aos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, presos dia 15 no Íbis. Segundo seu advogado, Alberto Toron, Lacerda negou saber de qualquer negociação financeira ou de venda do dossiê.

Toron confirmou, porém, a operação para divulgar o material. Ele isentou Mercadante de qualquer participação e responsabilizou o comando da campanha nacional do PT pela iniciativa de levar o material a público.

Segundo o advogado, Lacerda declarou ao delegado Diógenes Curado Filho que foi chamado a Brasília por Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de inteligência da campanha do presidente Lula, 'para discutir se seria possível divulgar material de repercussão na campanha'.

A PF não mudou de opinião sobre o envolvimento de Lacerda no caso. Segundo uma autoridade que acompanha as investigações, as imagens do hotel são claras. Ele carregava uma sacola ao entrar, não uma maleta de computador. Mas, segundo essa fonte, a sacola não foi apreendida, embora estivesse no local, abrindo brecha para a defesa.

Com autorização judicial, agentes fizeram busca e apreensão em duas casas de Lacerda ontem. Foram apreendidas agendas, alguns documentos, fitas, CDs e anotações. Agora, o material vai passar por análise.

O advogado Toron disse que seu cliente esteve duas vezes no Íbis, em dias diferentes. Em um deles, levou folhetos de campanha, boletos para recolhimento de contribuições e roupas. No outro, o computador, que seria usado para examinar um DVD. Tudo teria sido entregue a Gedimar - que, ao depor à PF, afirmou que recebeu o dinheiro de dois portadores, no dia 14.

FREUD GODOY

O delegado, o procurador da República Mário Lúcio Avelar e o procurador-regional eleitoral Pedro Barbosa ouviram ontem também Freud Godoy, ex-assessor do presidente Lula. Segundo Toron, Lacerda negou ter tido contato com Freud, apontado por Gedimar como mandante do pagamento pelo dossiê.

O ex-assessor sustentou que seus contatos com Gedimar foram comerciais, relacionados à prestação de serviços de segurança. Segundo seu advogado, Augusto Botelho, Freud respondeu a todas as perguntas nas duas horas e meia de depoimento. 'Está cada vez mais clara sua não-participação.'

Freud admitiu conhecer Jorge Lorenzetti, mas disse que também esses contatos se referiam a serviços da campanha.