Título: Alvino, 74, banca a família
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2006, Vida, p. A32

¿Comecei a trabalhar quando minha mulher tinha 15 anos. Foram mais de 30 anos na lavoura da cana, pegando no pesado logo cedo. Só em 1995 deram baixa na minha carteira e me deram descanso¿, conta o trabalhador rural aposentado Alvino José da Silva, de 74 anos, na porta de casa, no município de Roteiro, a 70 km de Maceió (AL).

A mulher dele, Maria Delvita da Silva, de 55 anos, também trabalhou no corte da cana para a Destilaria de Roteiro e depois para Usina Roçadinho, na região da zona da mata sul. Há cerca de 11 anos, Alvino sustenta a família com o salário mínimo que recebe da aposentadoria rural e com a ajuda do salário da mulher, que foi aposentada neste ano.

¿Se não fosse a aposentadoria, nós estaríamos passando necessidade¿, reconhece Delvita, que teve 18 filhos, ao logo dos 40 anos de casamento. Desses, apenas nove estão vivos: quatro homens e cinco mulheres. A última perda da família foi Maria Quitéria, que morreu com 21 anos, quando trabalhava como empregada doméstica na capital. Ela deixou dois filhos pequenos, e um deles ainda depende do sustento dos avós. ¿A maioria dos meus filhos morreu quando nasceu¿, lamenta Delvita.

¿Dos que se criaram, só as duas meninas menores vivem às nossas custas, mas a gente também ajuda os meninos quando estão desempregados¿, acrescenta. Além das duas aposentadorias, uma pequena quitanda reforça a renda da família, que ainda recebe R$ 65 por mês do Bolsa-Família.

¿A vida aqui é simples. Os gastos são poucos, a casa é própria. A maior despesa é com remédio¿, conta Alvino, que sofre de problemas neurológicos. Ele diz que gasta entre R$ 100 e R$ 150 por mês na farmácia. O restante da aposentadoria do casal é usado para pagar a conta de água, de luz, para a feira e pequenas prestações.