Título: Convivência de gerações é difícil, mas traz ganhos
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2006, Vida, p. A32

Daniel é fissurado em rock, videogame e vôos de skate. Blener prefere samba, TV e os pés firmes no chão. Os dois dividem um apartamento de um quarto em Ipanema, zona sul do Rio. Fisicamente, estão juntos. Porém, separados no tempo por um período de até 72 anos, ou seja, quase três gerações. O avô, de 80 anos, mora com o neto, de 8, e a filha, Perla, de 51. Ela também têm suas preferências: música clássica, pintura e um pudim que aprendeu a fazer com o pai.

Sob o mesmo teto, tentam driblar as muitas diferenças. Todos são obrigados a levantar muito cedo, por volta das 5h20, pois Daniel entra na escola cedinho. O problema da televisão foi resolvido com a compra de uma nova. ¿Só uso para jogar¿, defende-se o mais novo da família Cardoso Pinto, diante das queixas de monopólio. ¿E quando é isso?¿, pergunta a mãe. ¿Toda hora¿, rebate, rindo.

Os desencontros existem, mas, segundo Perla e Blener, a convivência tem trazido muito mais ganhos. Juntos, fica mais fácil enfrentar as dificuldades financeiras, surgidas após o fechamento dos negócios da família. E, especialmente, a morte do pai de Daniel. A renda vem principalmente da aposentadoria de Blener, mas também de uma pensão de Perla. ¿Separados, não daria para viver¿, diz a única mulher da casa.

Aluno do Colégio Pedro II, um dos melhores do Rio, Daniel não sossega. Apesar da advertência do avô, faz piruetas de patins no espaço exíguo do apartamento. Dorme no canto da sala, onde fica a cama e o computador. Bem perto, Perla estende um colchão. Blener fica no quarto. ¿A gente se diverte com as histórias do Daniel.¿