Título: Sarney muda, vai à rua e apela até para Deus
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2006, Nacional, p. A25

No melhor estilo Lula, o senador José Sarney (PMDB) tem se apresentado ao eleitor do Amapá como um enviado divino. Em campanha pelo terceiro mandato consecutivo como representante do Estado que adotou como trampolim político no lugar de seu Maranhão natal, Sarney não teme o exagero.

Na última quarta-feira, por exemplo, ao discursar na localidade de Santana, ele defendeu a tese de que sua trajetória política foi tocada por forças superiores. É como se ele cumprisse um desígnio maior, cujo sinal mais forte foi sua inesperada posse na Presidência da República em 1985, no lugar de Tancredo Neves, que morreu logo depois de eleito.

'Deus não me traria de tão longe se ele não tivesse uma missão para me dar e ele realmente tinha, que era a de democratizar o Brasil, ver a democracia florescer', afirmou. Para o Amapá, para onde transferiu seu domicílio eleitoral em 1990, ao deixar o Planalto, Sarney prometeu 'prestar mais serviços e servir muito mais'.

O ex-presidente mudou seu modo de fazer campanha por causa das pesquisas de intenção de voto. No começo da corrida eleitoral, em maio, ele tinha uma vantagem de mais de 50 pontos em relação à principal adversária, Cristina Almeida, uma ex-policial militar que concorre pelo PSB. Em setembro, essa diferença tinha minguado para cerca de 8 pontos.

Com isso, Sarney teve de ir à luta, intensificando atividades de rua. Antes, pretendia se eleger 'sem sair de casa', como diziam os adversários e até os aliados. Seu coordenador de campanha, senador Gilvam Borges (PMDB-AP), afirma agora que 'está tudo sob controle'.

O curioso no Amapá é que as duas principais correntes políticos se definem como ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sarney é um dos principais aliados de Lula no Congresso e conversa com o presidente praticamente todo dia. Já Cristina Almeida jura que ela e o senador João Capiberibe (PSB), que teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral e agora concorre ao governo local, são os 'escolhidos' do presidente.

'Lula está torcendo para que nós sejamos vitoriosos porque vamos tirar um peso de seu coração', diz a ex-policial, referindo-se a um suposto desconforto do presidente por se aliar a um político de origem tão diversa da sua quanto Sarney.