Título: Preço do gás cai e favorece Petrobrás em negociações
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2006, Economia, p. B5

As cotações internacionais do gás natural despencaram nas últimas semanas, em um movimento que deve reforçar a posição da Petrobrás nas negociações com a Bolívia, segundo especialistas. Em Nova York as cotações para outubro fecharam ontem a US$ 4,201 por milhão de BTU, valor pouco acima do pago pelo Brasil nas importações da Bolívia - em torno de US$ 4 por milhão de BTU.

Os bolivianos falam em aumentar os preços para até US$ 7,50 por milhão de BTU. 'A Bolívia perdeu o tempo das negociações. Se tivesse avançado mais rápido, poderia ter obtido melhores resultados', avalia o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

Em entrevista no meio da semana, o diretor Financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, concordou que a queda das cotações reforça o argumento da estatal, de que não há espaço para reajustes. A principal justificativa dos bolivianos para um aumento era a diferença entre o preço das exportações e o mercado internacional.

Petrobrás e a estatal boliviana YPFB deveriam ter se reunido ontem para a sexta rodada de negociações sobre os preços. O encontro foi adiado e nova data deve ser agendada na semana que vem. A estatal brasileira não informou o motivo do cancelamento. No dia 11 de agosto, as duas empresas decidiram prorrogar em 60 dias o prazo para negociações. Na época, a cotação do gás para outubro em Nova York estava em US$ 7,47 por milhão de BTU.

Os contratos de gás negociados na bolsa de mercadorias de Nova York seguem as cotações de Henry Hub, maior formador de preços do combustível nos EUA. Com base nessa cotação a Petrobrás pretende balizar o valor de venda do gás natural liquefeito (GNL), que passará a importar em 2009.

Segundo Pires, os preços Henry Hub tendem a se movimentar de acordo com as cotações internacionais do petróleo. 'É um mercado volátil, ninguém garante que não vá subir nas próximas semanas.' Para setembro, as negociações de gás em Nova York apontam preço de US$ 5,6 por milhão de BTU. Nos meses seguintes, as cotações chegam a US$ 7,50, mantendo-se nesse nível até o fim do inverno no hemisfério norte. De qualquer maneira, o mercado hoje não vislumbra preços na casa dos US$ 14, como ocorreu no início do ano.

Paralelamente às negociações com a YPFB, o preço do gás boliviano sobe em 1º de outubro, seguindo a fórmula trimestral de reajustes prevista em contrato. No início do mês, a Petrobrás calculou em 5% o potencial de reajuste, mas o valor pode ser um pouco menor devido à queda do preço do petróleo. Se a previsão for confirmada, o preço do gás importado pelo Brasil chegará bem próximo dos US$ 4,20 vigentes no mercado internacional.