Título: Discussão entre Tasso e Jutahy expõe crise tucana
Autor: Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2006, Nacional, p. A10

Um bate-boca entre o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e o líder do partido na Câmara, Jutahy Júnior (BA), na reunião de segunda-feira da Executiva Nacional, explicitou o racha entre os tucanos que vem crescendo desde a eleição presidencial e abriu uma nova crise interna.

Tasso chamou o líder de 'traidor'. Jutahy, por sua vez, retribuiu com a acusação de falta de comando do senador. A discussão começou quando o presidente do partido tentou colocar em votação uma resolução interna que proíbe a participação do partido nos governos de Estados que serão governados por aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, no segundo turno da eleição, derrotou o tucano Geraldo Alckmin.

Ao perceber que a resolução seria contra o PSDB da Bahia, que está apoiando o governo do petista eleito Jaques Wagner, o líder reagiu: 'Tem uma expressão popular que diz que jabuti não sobe em árvore. Se estiver no alto, é enchente ou é mão de gente. Vamos deixar claro, então, que esta resolução é específica para a Bahia.'

O deputado aproveitou ainda para fazer um relato detalhado do processo político baiano e para defender a idéia de que o PSDB deveria ajudar o governador eleito, já que considera salutar o fim da oligarquia carlista (seguidores do senador Antonio Carlos Magalhães, do PFL) e a perspectiva de modernização do Estado.

'Você está se sentindo melindrado', emendou Tasso, ao que Jutahy respondeu: 'O que me estranha é que isso tudo é do interesse de ACM.' O PSDB baiano é adversário histórico de ACM e não vê com satisfação a relação estreita que o senador pefelista mantém com o presidente da legenda.

TRAIÇÕES

'Eu não agüento mais isso no partido. Esse Jutahy é um criador de casos e já deveria ter saído do PSDB. Ele traiu Fernando Henrique em 1994', atacou Tasso, esquentando ainda mais a discussão, presenciada por todos os integrantes da Executiva. Antes disso, o senador já havia sido acusado pelo deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) e pelo próprio Jutahy de falta de comando e de diretrizes do PSDB no segundo turno da campanha presidencial.

'Eu nunca traí ninguém', defendeu-se Jutahy, diante da acusação de Tasso. 'Fiz uma dissidência e comuniquei na época ao próprio Fernando Henrique. Posso ter errado, mas traidor nesta sala a gente sabem quem é', contestou, irritado, as declarações do colega de partido. O líder do PSDB na Câmara reagiu ainda lembrando que Tasso traiu José Serra quando, mesmo depois de participar da convenção que indicou seu nome à Presidência, em 2002, deixou a campanha no meio para apoiar Ciro Gomes.

'Você é incoerente e vem de uma oligarquia', acusou Tasso, numa alusão à família de políticos de Jutahy, especificamente seu avô Juracy Magalhães e o pai Jutahy Magalhães, que já morreram. O deputado não se conteve e afirmou que Tasso não tem 'vocação democrática, não tem capacidade para presidir o partido'.

O bate-boca entre os dois tucanos teve repercussão na bancada, que passou o dia de hoje em conversas de bastidores. 'Agora você está virando meu herói', brincou o deputado Xico Graziano ao abraçar Jutahy. A cena revela a insatisfação de setores do PSDB, especialmente a ala vinculada a Serra, com relação ao comando de Tasso na legenda.