Título: Dor piora e Lula usa cadeira de rodas na Nigéria
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2006, Nacional, p. A10

Sempre preocupado em demonstrar força e resistência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi obrigado pelo seu médico, na tarde de ontem, a usar cadeira de rodas em Abuja, capital da Nigéria. Ao chegar mancando do pé direito pela manhã ao hotel onde acontece a Cúpula África-América do Sul, ele tinha dispensado muletas e sorria como se estivesse tudo bem.

Foi difícil, no entanto, disfarçar o incômodo e a dor no tornozelo direito, após a torção na noite de segunda-feira, ainda em Brasília. Mesmo com o pé inchado, Lula usava sapatos.

Mais tarde, nos encontros reservados com presidentes africanos, numa sala do hotel em que está hospedado, Lula passou a sentir mais dor, segundo assessores. O presidente tirou o sapato do pé direito e colocou uma faixa de pano no tornozelo.

No intervalo dos encontros, foi levado ao banheiro numa cadeira de rodas por Cléber de Araújo Leal Ferreira, um dos médicos que o acompanham. Ferreira é ortopedista. Para desconforto do presidente, o corredor de acesso ao banheiro estava repleto de cinegrafistas e fotógrafos. Na cadeira de rodas, Lula estava com a fisionomia fechada. Assessores informaram apenas que o presidente torceu o tornozelo na Granja do Torto, sem dar detalhes.

Com o tornozelo machucado, Lula não compareceu ontem ao jantar oferecido pelo presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, aos chefes de Estado que participam da cúpula. Antes de se isolar na suíte do hotel, encontrou-se com os presidentes de Togo, Fauré Gnassignbe, de Gana, John Kufuor, de Moçambique, Joaquim Chissano, e da Argélia, Abdelaziz Bouteflika.

Por razões desconhecidas, o encontro de Lula com o ditador da Líbia, Muammar Kadafi, previsto para ontem, deve ocorrer somente hoje. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que Kadafi preferiu um café da manhã hoje para ter mais tempo de conversa.

'FANTASIA'

Amorim classificou de 'mito e fantasia desgovernada' versões de que o segundo governo Lula dará prioridade às negociações comerciais com os Estados Unidos e a União Européia. 'A prioridade continua a ser América do Sul e África.'

Amorim ressaltou que o governo tem 'enorme' interesse em negociar com países desenvolvidos. Ele disse que o Brasil não perdeu mercado nos EUA, por exemplo, para países que fizeram acordos de livre comércio, como Peru e Colômbia. 'Só perdemos para a China em alguns setores.' No ano passado, o Brasil teve um comércio total de US$ 12 bilhões com países africanos, US$ 7 bilhões em importação. O petróleo nigeriano responde por quase toda a importação.