Título: Indústria repete discurso: foi bom, mas foi pouco
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/11/2006, Economia, p. B5

A indústria repetiu o discurso feito durante todo o ano após cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de que a redução da taxa de juros não foi o bastante. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, os juros brasileiros não permitirão a desejada expansão da economia em 2007. Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) não deve ir além de 3,8% em 2007. Neste ano, disse, ficará em 3,1% e, em 2008, no máximo em 4%, conforme projeções anteriores da entidade.

'O País não pode mais resignar-se ao conservadorismo econômico, como se este fosse desígnio imutável de nosso destino', disse Skaf, em nota. Uma taxa anual em 13,25%, ' inviabiliza a retomada do crescimento sustentado já no início de 2007'. Para ele, falta visão histórica e geopolítica aos membros do Copom e ao governo.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, insistiu que a decisão do Copom é nefasta para a economia . 'Os juros ainda estão num patamar proibitivo e já comprometem o primeiro semestre de 2007, com perspectiva de queda na atividade econômica.'

Silva lembrou que os juros altos têm impacto social negativo, pois trava o crescimento e inibe o consumo, resultando em fechamento de postos de trabalho. 'Infelizmente, caminhamos para uma economia com desempenho pífio.'

O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, elogiou a redução, mas destacou que o cenário macroeconômico permitia queda maior, de até 1 ponto porcentual. 'A queda continuada dos juros sinaliza para a indústria e para investidores uma tendência positiva, mas, em um momento em que as autoridades públicas procuram propostas para reativar a economia e incentivar investimentos, a redução acentuada dos juros é uma boa medida.'

NATAL

Érico Ferreira, presidente da Acrefi (entidade que representa as financeiras), acredita que os consumidores sentirão rapidamente a redução de 0,5 ponto na Selic. 'Financeiras e bancos vão aproveitar para repassar o corte ao consumidor neste fim de ano e atingir as metas de crédito traçadas para o ano.' Ele observou que dezembro é o melhor mês para as financeiras por causa das festas natalinas.

Nas contas de Ferreira, a redução da Selic deve prosseguir em 2007. Sua expectativa é de que o juro básico recue para 12%. Para uma taxa de crescimento do PIB de 3,5% prevista para 2007, e levando em conta a queda dos juros básicos, ele considera a possibilidade de que a relação entre crédito e PIB avance 2 pontos porcentuais, de 32% para 34%.

Para Abram Szajman, presidente da Fecomércio, o maior desafio para o Banco Central agora é estimular a concorrência bancária para que a redução da Selic chegue ao consumidor. 'Em 2006, os bancos tiveram mais um ano de lucro recorde, mas o financiamento manteve-se inacessível para pequenos e microempresários.'

FRASES

Paulo Skaf presidente da Fiesp 'O País não pode mais resignar-se ao conservadorismo econômico, como se este fosse desígnio imutável de nosso destino'

Paulo Pereira da Silva presidente da Força Sindical 'A decisão do Copom é nefasta para a economia. Os juros ainda estão num patamar proibitivo'