Título: 5.000 sem-terra paralisam porto de Maceió para pressionar governo
Autor: Rodrigues, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Nacional, p. A4

Cerca de 5.000 trabalhadores rurais sem-terra, ligados a quatro movimentos - MST, CPT, MTL e MLST - ocuparam na manhã de ontem o porto de Maceió, impedindo o trânsito de caminhões para embarque e desembarque de mercadorias nos navios. O bloqueio durou cerca de 12 horas. Mais de 3.000 veículos circulam diariamente no local, ponto de escoamento de açúcar e álcool produzidos nas usinas da região.

Os sem-terra prometiam permanecer no porto até que suas reivindicações fossem atendidas, mas no final do dia concordaram em suspender o bloqueio. A principal reivindicação era por agilidade na desapropriação de mais de 20 mil hectares de terras, a oeste de Maceió. O Incra se comprometeu a acelerar a desapropriação da área, ajuizando de imediato ação relativa a 10 mil hectares.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, considerou que os sem-terra foram longe demais ao invadirem o porto. 'É evidente que ocorreu um exagero, porque o Incra fez todos os esforços para obter a imissão de posse da fazenda', queixou-se, referindo-se à tentativa de conseguir autorização provisória para que os sem-terra se instalassem na área. 'Essa imissão de posse será obtida já nos próximos dias.'

A administração do porto não soube informar ontem o valor dos prejuízos causados pela ocupação. De acordo com o administrador Domício Silva, há multa diária de US$ 15 mil (cerca de R$ 32.500,00) cobrada pelos exportadores por atraso no carregamento de um navio. Cerca de 30 caminhões carregados de açúcar formaram uma grande fila de espera durante o bloqueio do porto.

A ocupação começou por volta das 7 horas, quando os sem-terra chegaram em passeata, vindos da Praça Sinimbu, no centro de Maceió, onde haviam pernoitado de quarta para quinta-feira. Uma vez bloqueado o porto, começaram as negociações com dirigentes do Incra em Alagoas e em Brasília. Por volta das 17 horas, os manifestantes aceitaram desocupar a área e foram liberadas a entrada e a saída de caminhões.

Segundo o superintendente do Incra em Alagoas, Gilberto Coutinho, os sem-terra só aceitaram desocupar o porto depois que a direção nacional do instituto se comprometeu a iniciar imediatamente ação de desapropriação de 10 mil hectares das terras reivindicadas.

'A decisão da direção nacional do Incra é de comprar mais esse lote de terras da Usina Agrisa, que foi dividida em quatro lotes. O primeiro, de 5.000 hectares, já foi ajuizado (teve iniciada sua desapropriação)', afirmou Coutinho.

Segundo o superintendente, ficou acertado que na próxima semana representantes do Incra e do ministério estarão em Maceió para mais uma rodada de negociação com os quatro movimentos de sem-terra.

O coordenador do MST em Alagoas, José Roberto da Silva, disse que nessa reunião eles vão apresentar lista de reivindicações completa, que deve incluir pedido para desapropriar a sede da Usina Agrisa, onde há um parque industrial.