Título: Chávez diz ter evitado atentado a concorrente
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Internacional, p. A18

Numa entrevista coletiva de três horas, o presidente venezuelano, Hugo Chávez - favorito para a reeleição no domingo -, revelou ontem que as forças de segurança do país frustraram um atentado contra seu adversário, o governador licenciado de Zulia, Manuel Rosales.

'Grupos fascistas radicais pretendiam matá-lo e responsabilizar o governo pelo assassinato, para criar o caos e lançar a Venezuela numa guerra civil', disse Chávez no Palácio de Miraflores. 'Pois eu digo ao império (os EUA) e seus lacaios: não se atrevam a tentar desestabilizar a Venezuela ou a sabotar a eleição.' Ele não deu detalhes sobre o possível plano de assassinato, afirmando apenas que o fuzil com mira telescópica, que seria usado no atentado, foi confiscado pelos organismos de inteligência. Mais tarde, disse que um oficial militar foi preso por reunir-se com conspiradores civis. Ele não especificou quando o plano foi desmantelado.

Um dos coordenadores da campanha de Rosales, o jornalista Teodoro Petkoff, qualificou de 'bobagem' a revelação do suposto plano contra o opositor. 'A intenção de Chávez é semear o medo', disse ele ao Estado. 'Esse tipo de atitude não combina com a de um governo que se sente vencedor. É uma tática para incutir medo no eleitor, para ampliar a abstenção. Não existe nada de real nessa informação.'

Na entrevista, Chávez também elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e informou que fará sua primeira viagem internacional depois de reeleito - caso as pesquisas que lhe dão o favoritismo na eleição se confirmem - para o Brasil. 'Lula me visitou aqui depois de sua reeleição e eu vou retribuir. Chego ao Brasil dia 6 à noite e, no dia 7, estaremos conversando.'

Do Brasil, Chávez e Lula viajarão para Cochabamba, na Bolívia, onde participam da Cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações, nos dias 8 e 9. Chávez afirmou que o 'império' tentou indispô-lo com Lula depois que o governo boliviano de Evo Morales nacionalizou seu setor de gás e petróleo, em 1º de maio, com o apoio do governo venezuelano.

'Fui a Foz do Iguaçu logo depois, como ator de boa-fé, para participar da conversa entre Evo e Lula. Lula é um homem inteligente, um verdadeiro líder, que não entrou no jogo do império que nos joga uns contra os outros', acusou Chávez. 'No debate pela TV, o candidato da direita no Brasil (referência a Geraldo Alckmin) usou a nacionalização dos hidrocarbonetos da Bolívia para dizer que Lula não sabia defender os interesses do País, etc. Mas Lula se comportou como grande estadista e respondeu que não atropelaria a Bolívia, que é um dos países mais pobres do mundo. Que coragem! Que inteligência!'

Chávez saudou a eleição de vários presidentes esquerdistas na América Latina e defendeu a necessidade de acelerar a integração regional. Expôs também seus planos para a criação de um Banco do Sul - uma instituição de crédito regional que seria uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

Na véspera, o presidente havia participado de um grande comício no leste do país, enquanto Rosales reunia centenas de milhares de pessoas (mais de 1 milhão, segundo os assessores do candidato oposicionista) em Zulia, seu reduto eleitoral, no norte venezuelano.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou ontem que o esquema especial de reforço da segurança para a eleição entra em vigor a partir de hoje. O CNE também advertiu o jornal El Nacional, que publicou uma propaganda de Rosales proibida pela Justiça Eleitoral. Nela, uma criança vestida de vermelho recebe um fuzil das mãos de um adulto. 'Seus filhos doutrinados por escolas Castro-comunistas', dizia o anúncio, proibido por utilizar a imagem de um menor com uma arma. O jornal poderá ser multado.