Título: Oposição paralisa metade da Bolívia para pressionar Evo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Internacional, p. A20

Organizações civis e governadores de cinco dos nove Departamentos (Estados) bolivianos convocaram uma paralisação para hoje. A oposição protesta contra a manobra do Movimento ao Socialismo (MAS), do presidente Evo Morales, na Constituinte, para aprovar os artigos da nova Carta por maioria simples. A oposição quer votar cada artigo por dois terços, como expressa a Lei Convocatória.

Os comitês cívicos de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Cochabamba - mais de 50% do território boliviano - convocaram a greve. O presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, Germán Antelo, pediu que a paralisação seja 'disciplinada'. Os governadores de La Paz, Oruro, Chuquisaca e Potosí não acatarão a paralisação. A oposição também ameaça com uma greve geral a partir do dia 4.

Apesar da pressão, o MAS garantiu ontem que não cederá na forma de votação dos artigos na Assembléia Constituinte. O deputado constituinte Roberto Aguilar informou que a decisão da bancada é manter 'o critério estabelecido nas últimas semanas', ou seja, a votação por maioria simples. O MAS controla 54% dos votos da assembléia, que se reúne em Sucre.

O Poder Democrático e Social (Podemos), maior sigla da oposição, anunciou que manterá a paralisação no Senado, onde possui 13 das 27 cadeiras. Na terça-feira, o MAS furou o bloqueio - com apoio de dois senadores do Podemos (ler mais abaixo) e um da Unidade Nacional (UN) - e aprovou a lei de terras, que amplia o poder do governo para fazer a reforma agrária.

Ontem, o senador suplente da UN Abrahám Cuéllar, que apoiou a lei de terras, foi expulso do partido. Segundo o líder da sigla, Samuel Doria Medina, a expulsão ocorreu por 'delito em flagrante' e 'traição de princípios'. O senador José Villavicencio acusou Cuéllar de ter recebido uma proposta de US$ 100 mil para comparecer ao Senado. O governo e o próprio Cuéllar negaram as acusações.

O líder do Podemos no Senado, Wálter Guiteras, disse que a direção do partido analisará o caso dos dois senadores da sigla - Mario Vargas e o suplente Andrés Heredia Guzmán - que desobedeceram a ordem de não comparecer ao Senado. O Podemos também estuda medidas para contestar a sessão em que a lei de terras foi aprovada. Segundo Guiteras, pelo menos quatro artigos do regulamento interno teriam sido violados.