Título: Perda de identidade explicaria reduções
Autor: Lopes, Adriana Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Vida&, p. A22

As escolas católicas perderam alunos porque não souberam evangelizar. A conclusão é um do principais argumentos da Associação Nacional de Mantenedoras de Escolas Católicas do Brasil (Anamec), entidade que encomendou o Censo das Escolas Católicas no Brasil ao Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) para analisar a redução no número de alunos.

'É muito parecido com o que aconteceu com a própria Igreja, que acabou se afastando do fiel', diz Eurico Borba, secretário-executivo da associação. 'Há 30 anos, por exemplo, o padre rezava em latim. Hoje ele canta e salta no altar.' A última pesquisa sobre o trânsito de fiéis do próprio Ceris, divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em agosto de 2005, mostrou que o porcentual de católicos no País caiu de 73,9% para 67,2% em cinco anos.

'As escolas católicas perderam a identidade nos últimos anos. Elas vivem um momento de transição', avalia Sérgio Junqueira, assessor de ensino religioso da Associação de Educação Católica do Paraná.

Outro motivo, segundo Junqueira, é a queda no número de professores religiosos. A pesquisa encomendada pela Anamec indica, de fato, que a quantidade de professores leigos em escolas católicas é maior em todos os níveis escolares. No ensino fundamental, por exemplo, os leigos ocupam 93,4% das vagas. No ensino médio, 94,9%. Na pré-escola é um pouco menor: 89,2%.

MISSIONÁRIA

Mas, assim como a Igreja, que vem se esforçando para ser missionária, saindo em busca do católico desgarrado e do não católicos, as escolas começam a assumir um papel parecido. 'Em vez de falar de religião, as escolas estão agora vendendo seu peixe com os princípios da cultura religiosa, como princípios morais e solidariedade', analisa Fernando Altemeyer, teólogo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).

A pesquisa do Ceris mostra que 51,7% das escolas católicas fazem algum tipo de ação social. Foram identificados 3.655 tipos de atividades. A maioria é na área de distribuição de bens, como doações. Depois, vêm ações na área de cidadania, como projetos ambientais. No estudo, os leigos apareceram como responsáveis por mais da metade de atividades sociais (57,6%). O público-alvo das ações é principalmente a criança.

Outra recente transformação nas escolas católicas é na forma de ensinar religião, cada vez mais contextualizada. 'Para ensinar a vida de Jesus, por exemplo, o ideal hoje é também dar dicas de como eram as coisas na época, o que era Jerusalém etc.', diz Borba.

Durante décadas as escolas católicas não tiveram concorrência. A maioria chegou no fim do século 19, quando as congregações vieram da Europa para fundar escolas, apoiadas pelo governo.

Em 1890, por exemplo, os jesuítas fundaram o Colégio Anchieta em Porto Alegre. Depois, o Santo Inácio, no Rio (1903), e o São Luís, em São Paulo (1918). Em 1903, inauguraram uma escola primária, o Colégio de São Bento, na capital paulista.

Já maristas chegaram ao Brasil em 1897, quando inauguraram em São Paulo o Externato Nossa Senhora do Carmo. Outras congregações tradicionais no ensino são os franciscanos (Colégio Pio XII, em São Paulo) e a Santa Cruz (Colégio Santa Cruz, em São Paulo).

Segundo a irmã Diane Cundiff, do Colégio Santa Maria, a partir dos anos 70 e 80, muitas freiras deixaram as congregações para trabalhar em paróquias, em pastorais sociais, abrindo mão das instituições. 'Muitas congregações ficaram sem equipes fortes que pudessem levar as escolas para frente', diz.

O diretor do Colégio Santo Américo, Antonio Luiz Laurindo, acredita que muitas escolas não souberam lidar com a dinâmica exigida pelo mercado atual, mas, para ele ainda há grande procura por colégios católicos. O Santo Américo não teve queda no número de alunos nos últimos anos e ainda é tido como uma escola tradicional. 'Colocamos especialista em cada um dos setores. O padre não é diretor pedagógico. Esse é o segredo.'