Título: PIB cresce só 0,5% no 3º trimestre e pode ficar abaixo de 3% no ano
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Economia, p. B1

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro continuou a se expandir ao ritmo medíocre das últimas décadas no terceiro trimestre de 2006. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série dessazonalizada, o crescimento foi de 0,5%, o que dá 2,01% em termos anualizados. Na comparação com o terceiro trimestre de 2005, a expansão foi de 3,2%. Nos 12 meses até setembro, o PIB cresceu apenas 2,3%. E, no acumulado do ano, comparado com igual período de 2005, cresceu 2,5%. Desde os anos 80, o PIB brasileiro arrasta-se a um ritmo entre 2% e 2,5% ao ano.

Com o resultado do terceiro trimestre divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), crescem as apostas no mercado de que o PIB em 2006 não crescerá mais do que 3%, ou mesmo de que fique um pouco abaixo deste nível. O Banco Itaú, por exemplo, prevê 2,9%, e o ABN Amro, 2,8%. Segundo os cálculos do IBGE, para que a economia cresça 3,2% em 2006 - a previsão oficial do governo -, o PIB teria que crescer 5,2% no último trimestre, comparado com igual período do ano anterior. A última vez que isso aconteceu foi no terceiro trimestre de 2004, com crescimento de 5,9%. Antes disso, só no início de 2000.

Houve, porém, uma boa notícia ontem: os investimentos estão crescendo 6% no acumulado do ano, bem acima do PIB, puxados pela importação de bens de capital e por uma expressiva recuperação da construção civil (ver pág. B6). No setor externo, consolidou-se a tendência, que vem do início deste ano, das importações crescerem mais (em volume) do que as exportações, o que tem um efeito de subtração no PIB. O consumo das famílias, o componente mais importante do PIB, continuou a expandir-se no ritmo moderado que já se mantém por três anos.

No terceiro trimestre, o destaque do PIB foi a agropecuária, que cresceu 7,8% em relação ao mesmo trimestre de 2005. Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, este resultado foi bastante influenciado pelo café - que está crescendo 22% no ano, depois de cair 13% em 2005 -, que tem 45% da colheita no terceiro trimestre. ¿É uma cultura muito cíclica mesmo.¿ Além do café, o bom desempenho da agropecuária foi influenciado pela cana, que está crescendo 8% no ano e tem 50% da safra no terceiro trimestre. Outros destaques foram o feijão, com 8% no ano, e a pecuária bovina.

A indústria cresceu 3% no terceiro trimestre, comparado com o mesmo período de 2005. O melhor desempenho foi o da construção civil, que cresceu 5,5% e acumula 5% no ano. ¿Este é um setor que vem se recuperando depois de ter passado vários anos muito mal¿, comentou Rebeca. Ela acrescentou que a principal razão para o bom desempenho da construção civil foi o aumento de 25% no volume nominal de crédito para o setor, quando se compara com o terceiro trimestre do ano anterior. ¿Em ano de eleições, acaba havendo mais obras¿, acrescentou a economista.

Na indústria da transformação, que teve um crescimento decepcionante de 2% na comparação com igual período de 2005, alguns dos melhores segmentos foram siderurgia, metalurgia, madeira, mobiliários e materiais elétricos. A indústria extrativa mineral cresceu 3,6%, uma recuperação ante a expansão de 1,5% no segundo trimestre, mas ainda longe do ritmo acima de 10% que prevaleceu nos quatro trimestres até março deste ano.

Segundo Rebeca, o trabalho de manutenção de plataformas (gás e petróleo respondem por 74% do setor extrativo-mineral) no segundo trimestre foi retomado no terceiro, mas ainda com interrupções, e sem que novas plataformas entrassem em operação. Já o segmento de minério de ferro, responsável por 18% da indústria extrativa-mineral, continuou a se expandir acima de 10%.

Os serviços cresceram 2,2% no terceiro trimestre, comparado com igual período do ano passado. O melhor desempenho ficou com o comércio - varejista e atacadista -, com 3,4%. O destaque negativo foi das comunicações, que tiveram retração de 0,7%, depois de já terem caído 3% no segundo trimestre. A causa básica é a queda da telefonia móvel, que ainda não é compensada pela expansão da telefonia celular.