Título: No fim, ninguém pediu nada
Autor: Rosa, Vera e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2006, Nacional, p. A4

Sem consenso para propor uma agenda comum e com receio de provocar a primeira crise com a oposição, 16 governadores e dois vice-governadores filiados ao PT, PMDB, PDT e PSB recuaram da idéia de apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um documento de reivindicações dos Estados. A reunião de três horas realizada ontem, seguida de almoço com Lula, se limitou a uma manifestação de apoio político e compromisso para ajudar o presidente a reforçar sua base no Congresso e montar o governo de coalizão.

O encontro foi organizado pelos governadores eleitos Jaques Wagner (PT-BA), Marcelo Déda (PT-SE) e Blairo Maggi (sem partido-MT), que pretendiam alinhavar três ou quatro reivindicações para apresentar a Lula. Mas voltaram atrás diante das ponderações dos peemedebistas Paulo Hartung (ES) e Eduardo Braga (AM) e do governador eleito do Ceará, Cid Gomes, do PSB. Com experiência de quatro anos de mandato em seus Estados, os peemedebistas advertiram que a iniciativa seria um desastre político e poderia ser caracterizada como a formação de um bloco de governadores 'alinhados e governistas' para enfrentar a oposição.

'Não é hora de dividir', alertou o amazonense aos colegas. Hartung deu o tom político antes mesmo do início da reunião, ao pedir um encontro amplo com os 27 governadores para definir uma pauta comum: 'Não existe uma agenda da base do governo e outra da oposição. O momento exige construção política.' Na véspera, Cid Gomes já dissera que a própria reunião dos aliados poderia provocar um clima de divisão, a despeito dos interesses convergentes dos Estados.

A estratégia de adiar a discussão de propostas foi reforçada ainda pelo fato de que nem os próprios aliados têm unidade na pauta de reivindicações. A prioridade para a reforma da Previdência foi defendida por Hartung e Braga, mas não teve a mesma receptividade do peemedebista Sérgio Cabral, eleito para o governo do Rio. 'A reforma da Previdência hoje é gestão para tapar os ralos e investir na qualidade do gasto público e no atendimento', disse.

Para Hartung, o rombo no setor chegará a R$ 40 bilhões inviabilizando os investimentos. Já Eduardo Braga disse ser necessário fazer uma reforma completa, além da Previdência. 'Como mexer na Previdência sem fazer uma reforma no Estado e sem rever direitos adquiridos?', argumentou. 'Precisamos de propostas que tenham viabilidade', concluiu o governador reeleito do Piauí, Wellington Dias (PT).