Título: Justiça preserva dados telefônicos
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2006, Nacional, p. A8

A Justiça determinou às operadoras de celulares e companhias telefônicas que preservem os dados relativos a 33 linhas, 5 fixas e 28 móveis, sob investigação no caso Celso Daniel - prefeito do PT de Santo André executado a bala em janeiro de 2002. A ordem foi dada pelo juiz Luis Fernando Migliori Prestes, do Fórum de Itapecerica da Serra, que preside a ação penal contra os acusados de terem seqüestrado e assassinado Celso Daniel.

O juiz acolheu argumentação do Ministério Público Estadual sobre a importância de acessar o histórico de chamadas daqueles números para tentar chegar à identificação de outros supostos envolvidos no crime. Os promotores que investigam o caso tomaram a iniciativa com base em documento subscrito por um investigador do 78º Distrito Policial, Marcos Badan, que alertou para o fato de que o sistema de telefonia mantém em arquivo essa informação por cinco anos no máximo.

Segundo os promotores, a delegada Elizabete Sato ignorou a recomendação do investigador. Ela concluiu que não houve crime político. Os promotores também a acusam de ter aberto no inquérito policial a qualificação de testemunhas legalmente sob proteção. Eles alegam que Elizabete cedeu cópia do inquérito a um empresário apontado como integrante do esquema de propinas da administração Celso Daniel. A delegada está em férias e não respondeu às chamadas feitas pela reportagem para o seu celular.

RANÇO

O advogado Roberto Podval, defensor do empresário Sérgio Gomes - apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato do prefeito - declarou que vai pedir hoje ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, que afaste da investigação os promotores de Santo André. Podval, criminalista, disse que respeita os promotores, mas sustenta que eles 'perderam a isenção'.

Para o advogado do empresário, os promotores são movidos por 'um ranço investigativo' que se arrasta há quase cinco anos. 'Não temo e nem o Sérgio teme a investigação. Não é possível no Estado democrático admitir que uma apuração se prolongue indefinidamente.'

Roberto Wider e Amaro Thomé são os promotores que esmiúçam o caso. Eles integram a unidade de elite do Ministério Público que combate o crime organizado. Wider e Amaro estão convencidos de que Celso Daniel foi eliminado porque havia decidido dar um fim à rede de propinas na administração municipal. Eles sustentam que Sérgio Gomes foi o mandante do crime.

'Sérgio é inocente', afirma Roberto Podval. 'Não dá mais para suportar essa investigação sem fim, já houve uma da PF, duas da Polícia Civil e os promotores não aceitam. Vou ao procurador-geral pedir que cesse a designação dos promotores. Tudo tem limite, ninguém pode ser investigado pelo resto da vida. Virou questão pessoal, particular para os promotores. Seria mais correto se eles próprios pedissem para sair.'

Roberto Wider destacou que a defesa já tentou afastá-lo e a seu colega Amaro Thomé pela via judicial.

'Não conseguiram na Justiça. Isso não nos intimida. No sistema democrático o acusado não pode escolher o acusador. Nosso objetivo sempre foi o de apurar a verdade', afirmou o promotor ao Estado.