Título: Morre em Londres ex-espião russo envenenado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2006, Internacional, p. A17

O ex-espião russo Alexander Litvinenko, internado dia 17 após ter sido envenenado, morreu ontem à noite na UTI de um hospital de Londres, mas os médicos não conseguiram determinar a causa exata de sua morte.

Litvinenko, um duro crítico do governo de Moscou, teve uma parada cardíaca na noite de quarta-feira e havia sido sedado. Os médicos do hospital disseram ontem durante o dia que testes indicaram que ele não havia sido envenenado com tálio ou uma substância radioativa, como se cogitou inicialmente. Mas os médicos não conseguiram especificar que substância envenenou Litvinenko, de 43 anos. A Scotland Yard anunciou que investigará 'a inexplicável morte'.

Os médicos também haviam desmentido ontem a versão divulgada pela rede BBC de que um exame de raio X detectara três objetos não identificados no estômago do ex-espião. Após o envenenamento, os cabelos de Litvinenko caíram, sua garganta ficou inflamada e seus sistemas imunológico e nervoso foram afetados.

Amigos de Litvinenko dizem que o envenenamento foi tramado diretamente pelo Kremlin. O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, classificou as acusações como 'sem sentido'.

O envenenamento pode ter sido uma queima de arquivo. Segundo o jornal The Guardian, Litvinenko estava investigando o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya - crítica do presidente russo, Vladimir Putin, que foi morta a tiros em 7 de outubro em Moscou - e teria recebido documentos que levariam aos nomes dos assassinos.

Acredita-se que o ex-espião foi envenenado no dia 1º de novembro. Ele passou mal após almoçar num restaurante japonês com o especialista italiano em segurança Mario Scaramella, que teria fornecido informações sobre os assassinos da jornalista russa.

Mas, antes de ir para o restaurante, o ex-espião russo esteve num hotel central de Londres, onde teve um rápido encontro para um chá com dois homens de Moscou - um deles era um ex-oficial da KGB que ele já conhecia e o outro era um desconhecido. As informações foram dadas por Alexander Goldfarb, que ajudou Litvinenko a procurar asilo na Grã-Bretanha em 2000, e confirmadas por telefone pelo ex-espião depois de ele ter sido internado.

O produtor Andrei Nekrasov, amigo de Litvinenko, declarou ao jornal The Times que falou com o ex-espião horas antes de ele perder a consciência. Na ocasião, Litvinenko lhe disse: 'Quero sobreviver para mostrar a eles. Os bastardos me pegaram, mas não podem pegar todo mundo.'