Título: 'É preciso despartidarizar'
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2006, Economia, p. B4

Presidente da Eletrobrás no início da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, o físico Luiz Pinguelli Rosa afirmou ontem que o governo precisa 'despartidarizar' a empresa para garantir que ela se torne uma 'Petrobrás do setor elétrico'.

Entusiasta da idéia de fortalecer a estatal, ele lembrou que há uma série de restrições a serem resolvidas, entre elas a dificuldade de obter financiamentos e a impossibilidade de ser majoritária em qualquer empreendimento.

'Entendo que a presidência da empresa seja cargo de confiança do presidente da República, mas os demais postos devem ser ocupados de acordo com critérios técnicos. Não se pode dar cargos de segundo escalão, acredito que nem mesmo diretorias, por critérios políticos', afirmou Pinguelli, que hoje coordena o programa de planejamento energético da Coppe/UFRJ.

Atualmente, a empresa está nas mãos do PMDB, principal aliado do governo petista. Durante a gestão Fernando Henrique Cardoso, era o PFL que controlava o setor elétrico.

Especialistas lembram que a profissionalização dos gestores foi um dos primeiros passos para a transformação da Petrobrás no gigante que é hoje.

No início de seu segundo mandato, logo após o fim do monopólio estatal, Fernando Henrique convocou o economista Henri Philippe Reichstul, experiente no setor financeiro, para comandar a Petrobrás. 'Eles chegaram com a missão de internacionalizar a empresa e prepará-la para uma maior competição no Brasil', recorda o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), que colaborava com o governo anterior.

Hoje, a Petrobrás é a oitava maior companhia de petróleo entre as negociadas em bolsas de valores, com valor de mercado de R$ 190 bilhões e é a empresa estrangeira mais negociada na Bolsa de Nova York.

REAÇÃO

A Eletrobrás, incluída no programa de privatizações da década de 90 e impedida de investir, parou no tempo, limitando-se a atuar como um grande banco do setor elétrico, gerindo recursos setoriais. As notícias de que o governo pretende reativar a companhia animaram os investidores - as ações ordinárias da Eletrobrás tiveram a maior alta (7,36%) no pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo.

Pinguelli avalia que, para retomar a condição de grande investidor, a Eletrobrás precisa reaver o direito de ser majoritária em novos investimentos, cassado pelo Programa Nacional de Desestatização (PND).

Além disso, necessita de financiamentos do BNDES, que hoje precisam ser autorizados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). 'É um procedimento burocrático, que põe a empresa nas mãos do Banco Central', apontou.

Ele sugere ainda uma reestruturação organizacional da companhia, hoje formada por seis subsidiárias no setor de geração e transmissão mais cinco distribuidoras federalizadas na década de 90. 'A Eletronuclear e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica poderiam ser fundidas, criando uma grande estatal de termoeletricidade', exemplificou. O grande número de subsidiárias, diz, pode gerar ruídos e falta de sintonia entre as companhias.