Título: Chávez é reeleito com 61% dos votos
Autor: Lameirinha, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2006, Internacional, p. A8

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi reeleito ontem para mais um mandato de seis anos. Com 78,31% dos votos apurados, Chávez tinha 61,35% (5.936.141 votos). O governador licenciado de Zulia, o oposicionista Manuel Rosales, obtinha 38,39% (3.715.292 votos). Imediatamente após a divulgação do primeiro boletim oficial, chavistas festejaram estourando fogos de artifício e um grande buzinaço tomou conta de Caracas. O resultado saiu quase cinco horas depois do fechamento das urnas. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) tinha proibido a difusão de projeções de boca-de-urna, causando tensão entre os partidários dos dois candidatos.

Chávez comemorou a vitória aparecendo no balcão do Palácio Miraflores. Antes de discursar, Chávez cantou o hino nacional para uma multidão. Esta é a quarta vitória do presidente venezuelano sobre a oposição desde que chegou ao poder, em 1998. Tenente-coronel da reserva do Exército, Chávez tornou-se conhecido depois de liderar uma fracassada tentativa de golpe militar em fevereiro de 1992. Depois, tornou-se amigo íntimo do cubano Fidel Castro e elegeu o governo dos EUA - para quem vende quase 3 milhões de barris de petróleo por dia - como inimigo preferencial.

Mas queixas generalizadas dos assessores de Rosales marcaram o encerramento da eleição. Segundo os oposicionistas, soldados da Guarda Nacional forçaram presidentes de mesa a reabrir várias seções eleitorais, mesmo depois de o CNE ter declarado o encerramento da votação, pouco depois das 17 horas locais (19 horas de Brasília). Pela norma do CNE, só poderiam ficar abertos depois da declaração os locais onde ainda havia eleitores na fila. De acordo com um dos líderes da campanha de Rosales, Eliseo Fermin, em várias seções os militares obrigaram os mesários a permitir que grandes grupos de eleitores, que chegavam em ônibus, votassem.

No entanto, outro cacique do comando de Rosales, o jornalista Teodoro Petkoff, que estava em Maracaibo, deu a entender que os incidentes do fim da votação 'tinham sido quase todos resolvidos'. Petkoff pediu, porém, que os fiscais da oposição se mantivessem alertas até o fim do processo de apuração.

A votação na Venezuela é totalmente eletrônica - incluindo o processo de transmissão dos resultados para o centro de computação do conselho, em Caracas. Por isso, funcionários eleitorais esperavam que, já no primeiro boletim, se apresentariam resultados de mais de 60% dos votos.

Além da apuração eletrônica, o CNE se comprometeu a contar, como forma de auditoria, 54% dos comprovantes eleitorais que a máquina emite. Várias entidades de observação eleitoral da Venezuela e do exterior - incluindo a missão observadora da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Mercosul - acompanhariam essa contagem. Em mais uma denúncia, fiscais da campanha de Rosales denunciaram que não tiveram acesso a várias das mesas nas quais a auditoria seria feita.

Informações contraditórias sobre o desenvolvimento da votação foram difundidas por emissoras de rádio e TV venezuelanas durante todo o dia. Já no sábado, o CNE dava como terminado o trabalho de instalação de 100% das mesas. Mas, segundo a emissora de TV privada Globovisión relatou, seções em vários pontos do país tiveram dificuldades para dar início à votação - prevista para começar às 7 horas locais - por causa de problemas técnicos nas urnas eletrônicas.

O líder da missão de observação do Mercosul, o ex-vice-presidente argentino Carlos 'Chacho' Álvarez (durante o governo de Fernando de La Rúa, de 1999 a 2001), no entanto, declarou ao Estado que nenhuma irregularidade grave tinha sido constatada durante a eleição.

Tenente-coronel da reserva do Exército, Chávez tornou-se conhecido depois de liderar uma fracassada tentativa de golpe militar, em fevereiro de 1992. Depois, tornou-se amigo íntimo do cubano Fidel Castro e elegeu o governo dos Estados Unidos - para quem vende quase 3 milhões de barris de petróleo por dia - como inimigo preferencial.

Rosales, por seu lado, apresentou-se como o candidato unificado de uma coalizão de nove partidos da oposição - que vai da centro-direita à centro-esquerda - com o objetivo de pôr fim ao chavismo. Segundo os oposicionistas, Chávez pretende aprofundar sua 'revolução bolivariana', implementando na Venezuela o modelo de Cuba, de partido único e restrição das liberdade de expressão e das garantias individuais.

O governador licenciado de Zulia também prometia repartir diretamente os lucros da indústria do petróleo - que, só de janeiro a setembro deste ano, rechearam com US$ 43,6 bilhões os cofres do governo venezuelano - com a população.