Título: Crédito ao consumidor mantém fôlego e pode crescer 30% em 2007
Autor: De Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2006, Economia, p. B1

O crédito ao consumidor deve continuar a todo vapor como motor da economia em 2007 e meados de 2008, enquanto o governo procura alternativas para pôr o País na rota do crescimento robusto, de 5% ao ano, com a ampliação dos investimentos produtivos.

Com a redução da taxa básica de juros, a Selic, para 13,25% na semana passada (o menor nível em termos nominais da história do País), a perspectiva para 2007 é expandir entre 25% e 30% o volume de empréstimos ao consumidor. A projeção dos analistas de crédito considera um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3% e 3,5% para o ano que vem.

Neste ano, as financeiras e os bancos não têm do que reclamar. O saldo das operações de crédito ao consumidor, isto é, tudo que foi emprestado aos brasileiros com recursos livres das instituições financeiras, deve fechar 2006 na marca histórica de R$ 200 bilhões. A alta é de quase 30% ante 2005. Até outubro a cifra era de R$ 189 bilhões, 21,8% mais que em dezembro de 2006, segundo o Banco Central.

O que sustenta a previsão otimista de que 2007 será o quinto ano consecutivo de expansão dos financiamentos ao consumidor na casa de dois dígitos é o cenário favorável para os empréstimos. 'Nunca a taxa média de juros cobrada do consumidor foi tão baixa como hoje e o prazo médio de financiamento tão longo', diz o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Pesquisa nacional feita pela entidade revela que a taxa média de juros ao consumidor em outubro era de 7,43%, ou 136,32% ao ano. No mesmo período de 2005, o consumidor pagava 7,58% ao mês ou 140,31% ao ano para comprar a prazo. Em 12 meses, são quase 4 pontos porcentuais a menos.

Os prazos médios no período também esticaram. Entre outubro de 2005 e 2006, o financiamento de veículos saltou de 24 para 30 meses. No caso de outros financiamentos, o alongamento de prazos nesse período foi menor: de 15 para 17 meses. 'A tendência é ampliar ainda mais os prazos em 2007', diz Ribeiro de Oliveira. No exterior, conta, o crédito para veículos chega a 10 anos ou 120 meses, enquanto aqui o prazo máximo é de 72 meses, ou 6 anos.

O pano de fundo do cenário favorável para o crédito em 2007 é o crescimento, ainda que modesto, da economia, com a expansão da massa nominal de rendimentos dos trabalhadores e o alongamento dos prazos dos financiamentos.

Um estudo feito pelo diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, mostra que o montante de financiamentos concedidos aos consumidores pode manter o ritmo atual de crescimento até meados de 2008, sem comprometer a capacidade de pagamento. 'O crédito pode ser o motor da economia por mais um ano e meio', afirma Silveira.

Para chegar a essa conclusão, o economista considerou três hipóteses. Primeiro levou em conta que a massa nominal de rendimentos dos trabalhadores encerre o ano em R$ 67,3 bilhões. Em segundo lugar, descontando gastos obrigatórios com alimentação, transporte e moradia, as famílias têm disponíveis 25% da sua renda para gastar. Por último, o economista levou em conta que o prazo médio dos financiamentos em setembro era de18 meses.

Da combinação dessas três variáveis, Silveira concluiu que o brasileiro tinha em setembro capacidade para pagar uma dívida de R$ 303 bilhões, ante os financiamentos já assumidos na época, de R$ 187 bilhões. Por isso, o volume de empréstimos pode crescer na faixa de 30% em 2007, sem causar constrangimentos.

'O consumidor não esgotou a sua capacidade de endividamento', afirma o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Ferreira. A perspectiva de continuidade da queda dos juros básicos e o crescimento da economia abrem espaço para o endividamento maior, prevê.

Ele observa que, no caso de veículos, a taxa está se aproximando da marca de 1% ao mês. 'Essa taxa tão baixinha induz o brasileiro a tomar crédito até mesmo quem ganha cerca de três salários mínimos mensais (R$ 1.050)', diz Ferreira.

Pesquisa da TNS InterScience mostra que o campo é fértil para o crédito crescer. Só considerando a população que tem conta em banco em nove regiões metropolitanas do País, a pesquisa constatou que 34% desses brasileiros (11,7 milhões)não têm acesso a produtos financeiros como cartão, cheque especial e crédito pessoal.

ESTRELAS

'Este ano foi muito bom e o mercado hoje está muito ousado em crédito', afirma o diretor operacional do Banco PanAmericano, Wilson Roberto de Aro. A carteira de crédito ao consumidor da instituição deve fechar este ano em R$ 5 bilhões, com crescimento de 28% ante 2005. Para 2007, ele prevê crescimento de quase 30%. Entre as estrelas do crédito da instituição para 2007, ele aponta os cartões e o crédito consignado, com expansão de 30%.

Já os presidentes da Acrefi e da Anefac acreditam que as vedetes de 2007 serão os financiamentos imobiliários e de veículos, que têm garantias reais e são de maior valor. Nessa direção, o Bradesco e o Santander fecham este ano cada um com cerca de R$ 2 bilhões destinados a imóveis. Em 2006, foram cerca de R$ 700 milhões.