Título: 'Promessas não devem afetar disciplina fiscal'
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2006, Economia, p. B3

'As mudanças de governo na América Latina ou promessas populistas de presidentes reeleitos na região não deverão afetar o compromisso das economias do continente com a disciplina fiscal.' A avaliação é do presidente do Banco Central argentino, Martin Redrado.

Em entrevista ao Estado, a principal autoridade monetária da Argentina pede que analistas estrangeiros tomem por base 'os fatos da situação macroeconômica da região, e não a retórica'. Segundo ele, 'não há mais como a América Latina abandonar a disciplina fiscal'.

O presidente do Banco Central argentino disse que não é uma questão de esquerda ou de direita. 'A região já avalia essa disciplina e a estabilidade como um valor adquirido e um bem público.' Redrado também acrescentou que a disciplina fiscal não é uma ideologia. 'Por isso, peço que qualquer avaliação sobre a América Latina seja feita com base em fatos, e não nos discursos', afirmou.

O presidente do Banco Central argentino participa hoje de um encontro com presidentes de bancos centrais da Europa e da América Latina em Madri, na Espanha, para discutir exatamente as preocupações em relação ao futuro da região. Além do argentino, a reunião conta com o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, que também falará aos europeus. 'Há regiões da América Latina onde existe um perfil mais midiático nos governos. Mas não podemos confundir isso com substância', alertou.

CHOQUES

Para Martin Redrado, a América Latina está mais bem preparada hoje para enfrentar choques externos e isso ocorre, em grande parte, graças às medidas tomadas nos últimos anos. 'Acabamos de atravessar uma certa turbulência com a desvalorização do dólar. Mas a reação sólida da América Latina mostra que conseguimos construir barreiras eficientes contra a vulnerabilidade externa, principalmente os países que apresentam superávit fiscal e reservas internacionais importantes', afirmou.

Segundo ele, a desaceleração econômica nos Estados Unidos em 2007 deverá fazer com que seja mais difícil crescer na América Latina no próximo ano. 'Já vemos sinais de que o crescimento americano será menor no próximo ano. Por isso, acredito que teremos uma redução de 0,5% na taxa média de crescimento da região em 2007, o que fará com que passemos a crescer não a 4,5%, como deve ocorrer neste ano, mas a 4%', explicou Redrado. Segundo ele, a economia da Argentina deve fechar o ano com um crescimento de cerca de 8,4%.

BRASIL

Sem querer comentar o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de menos de 3%, o presidente do BC argentino preferiu destacar o papel do País como 'estabilizador'. O Brasil, além do México, está crescendo a taxas inferiores à média regional o que, para instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), está impedindo um crescimento ainda maior da América Latina. 'Por serem as maiores economias, Brasil e México certamente marcam uma tendência. Mas também tiveram um papel importante para dar maior estabilidade à região', afirmou.

Apesar de evitar comentários sobre o impacto que o baixo crescimento da economia brasileira teria para a região da América Latina, Redrado admitiu que o peso do Brasil na economia da região é fundamental. 'Tudo o que ocorre no Brasil importa', completou.