Título: Na estréia, Serra ataca 'estagnação econômica' no País
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Nacional, p. A7

O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem em seu primeiro pronunciamento após as eleições que pretende manter 'as melhores relações institucionais possíveis' com o presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas entrelinhas, no entanto, deixou claro, ao fazer críticas à política econômica, que será nos próximos quatro anos um cobrador duro de mudanças para desarmar o que chamou de 'armadilha anticrescimento'. 'Ninguém deve tolerar estagnação econômica por timidez e mesmo por covardia', afirmou.

Com palavras fortes, Serra desconstruiu o discurso de que o baixo crescimento está atrelado ao controle da inflação e disse que o País viveu 'desgraçadamente' nos últimos anos com baixas taxas de desenvolvimento e elevados índices de desemprego. 'Isto não se deve à estabilidade, como muitos dizem por aí, até porque a maioria dos países não pára de crescer e enriquecer em condições de baixa inflação.' E ironizou: 'Somos hoje uma raridade mundial. Daqui a pouco, (seremos) objeto de curiosidade científica.'

Serra cobrou mudanças na condução da economia. 'Precisamos encerrar um difícil período da vida nacional, durante o qual desenvolvimento tornou-se um palavrão e desenvolvimentismo, um insulto.' Prometeu fazer em São Paulo um governo popular, mas voltado para o desenvolvimento. Economista, e candidato potencial à Presidência em 2010, pretende usar a área econômica como contraponto do seu governo à gestão federal de Lula.

ELOGIO A FHC

Em meio às críticas ao presidente reeleito, Serra ressaltou que todos os brasileiros devem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso 'a obra monumental que devolveu ao Brasil o valor da moeda' e questionou um dos principais alicerces do discurso doe Lula na campanha eleitoral. 'O baixo crescimento não faz boa distribuição de renda. Ele distribui apenas a pobreza, torna os mais necessitados clientela das políticas compensatórias, justas, mas insuficientes.'

Sobre seu papel na oposição, o novo governador falou pouco e repetiu os refrões tucanos. Disse que não vai jogar no quanto pior melhor, mas cobrar e fiscalizar. E prosseguiu: 'Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais a eles'.

Em público, ele descartou ser o líder de um movimento de oposição a Lula e disse que a conversa será no plano institucional. 'Não encontrarão eco os que quiserem acender rivalidades fictícias e fora de lugar'. Ontem,Serra telefonou para Lula para cumprimentá-lo pela vitória e disse que se encontrará com o presidente, quando for chamado. Fez apenas uma ressalva: a pauta a ser discutida é sobre governo e não política. 'Desejei boa sorte a ele, o que significa desejar boa sorte ao povo brasileiro.'