Título: PFL não repetirá aliança com PSDB em 2010
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Nacional, p. A8

O PFL não repetirá a aliança com o PSDB nas eleições presidenciais de 2010. A ordem, a partir de agora, é lançar candidato próprio, inclusive na disputa municipal daqui a dois anos. A Executiva Nacional do partido decidiu ontem que a parceria com os tucanos ficará restrita à atuação parlamentar conjunta, na oposição ao governo Lula no Congresso.

O próximo lance dessa aliança será a sucessão no Legislativo. Tucanos e pefelistas já começaram a discutir as estratégias possíveis para tomar a presidência do Senado dos governistas.

O candidato mais forte à sucessão é o atual presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem a simpatia do Planalto. Para enfrentá-lo, a oposição cogita duas alternativas: lançar um candidato do PFL, cujo figurino combativo veste perfeitamente o líder pefelista José Agripino (RN), ou articular uma dissidência do PMDB, que tem a maior bancada. O nome mais lembrado nesse caso é o do senador Pedro Simon (PMDB-RS) que, segundo um dirigente tucano, poderia adotar o discurso da recuperação da imagem e valorização do Legislativo.

A reunião da executiva foi convocada para que os dirigentes pefelistas reafirmassem o papel do partido na 'trincheira' da oposição ao segundo governo Lula, 'fiscalizando e denunciando os erros cometidos'. Em uma demonstração de que pretendem adotar linha oposicionista mais firme, o presidente nacional da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC), deixou claro que não quer nem conversa com o presidente reeleito.

'Nós não atravessaremos a rua (para ir ao Planalto)', disse o senador, em resposta à proposta de Lula de buscar dialogar com todos os partidos. 'Nossa trincheira é o Congresso, onde fomos colocados na oposição pelas urnas', emendou Bornhausen, ao sugerir que a interlocução se dê por líderes governistas no Congresso. 'Não haverá adesão, nem rendição, nem ressentimento.'

Segundo o secretário-executivo Saulo Queiroz, o entendimento geral foi o de que, se quiser sobreviver como partido, o único caminho do PFL é correr com sua própria equipe e seu próprio carro. 'Não dá mais para fazer o papel de mecânico no boxe de outra escuderia.'

O deputado eleito Alceni Guerra (PR) citou sua condição de médico para dizer que 'não se pode errar o diagnóstico, sob risco de perder o paciente'. Foi ele quem propôs que, além de lançar um pefelista ao Planalto, o partido também obrigue os diretórios municipais a disputarem as prefeituras com candidatos próprios.

Não foi discutido o processo disciplinar contra a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), sujeita a expulsão por ter desobedecido à orientação partidária e declarado voto em Lula. Mas as declarações de Bornhausen deixaram claro que, aliada a Lula, Roseana não tem mais espaço no partido. 'Qualquer solução é aceitável, menos a de um filiado se manter no PFL, votando contra a orientação partidária.'