Título: Coréia do Norte cede e volta a negociar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Internacional, p. A19

A Coréia do Norte concordou em retornar às conversações multilaterais para o fim de seu programa de armas nucleares, três semanas após ter realizado seu primeiro teste atômico, informaram ontem os governos chinês e americano. A chancelaria norte-coreana confirmou ontem à noite a volta às conversações. O acordo foi obtido durante discussões em Pequim entre representantes de China, Coréia do Norte e EUA. O enviado americano Christopher Hill disse que as conversações poderão ser retomadas em novembro ou dezembro, mas destacou que deve levar tempo para chegar a um acordo sobre o impasse nuclear.

Segundo Hill, Pyongyang reafirmou seu compromisso com um pacto preliminar alcançado em setembro de 2005 em Pequim durante as conversações entre seis países - Coréia do Norte, Coréia do Sul, Japão, China, Rússia e EUA. As negociações produziram um esboço de benefícios econômicos e garantias de segurança que a Coréia do Norte receberia em troca do fim de seu programa de armas nucleares. Mas Pyongyang suspendeu o diálogo em novembro, em protesto contra o congelamento de suas contas em bancos de Macau como parte de sanções unilaterais dos EUA.

As futuras conversações deverão abordar as preocupações norte-coreanas com as restrições financeiras dos EUA - impostas, segundo Washington, para impedir a falsificação e lavagem de dinheiro por parte de Pyongyang. A Coréia do Norte retornará ao diálogo fortalecida e com maior poder de barganha após comprovar que possui mesmo uma bomba nuclear e testar em julho um míssil que poderia atingir os EUA.

O acordo de ontem representa uma vitória diplomática para a China - que, mesmo após o teste nuclear do dia 9, foi contra sanções severas contra Pyongyang e defendeu a manutenção do diálogo. Ele também é fruto de um passo positivo dos EUA, que pressionaram pelo retorno ao diálogo, mas sem apresentar precondições. A China - a principal aliada do regime do ditador Kim Jong-il - vinha sendo pressionada pelos EUA para usar sua influência sobre Pyongyang, embora as relações bilaterais tenham ficado estremecidas pelo fato de a Coréia do Norte ter ignorado os pedidos chineses de moderação e testado sua bomba.

O presidente americano, George W. Bush, saudou a decisão de Pyongyang de retornar ao diálogo, mas acrescentou que enviará equipes à Ásia para garantir a aplicação das sanções aprovadas no dia 14 pelo Conselho de Segurança da ONU, proibindo a venda de equipamento e tecnologia que possam ser usados no programa nuclear norte-coreano. A Rússia, por sua vez, considerou ¿extremamente positiva¿ a decisão de Pyongyang.

Um porta-voz do governo do Japão também saudou o acordo, dizendo que as conversações entre as seis partes, que vinham sendo realizadas na China desde agosto de 2003, são o melhor meio de resolver o impasse. Mas, evidenciando uma divisão no governo japonês, o chanceler Taro Aso disse que o Japão não pode aceitar que a Coréia do Norte retorne às negociações como um país com armas nucleares. Semanas atrás, Aso fez declarações polêmicas - como a de que o Japão deveria estudar a possibilidade de desenvolver um programa nuclear - e acabou sendo contrariado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe.