Título: Grupos radicais juram vingança
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Internacional, p. A20
Líderes religiosos da Área Tribal do noroeste do Paquistão prometeram ontem derrubar o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, e lançar ataques suicidas contra alvos do governo em retaliação ao ataque do Exército à madrassa de Chingai, na véspera. ¿Vingaremos o sangue de nossos mártires com a continuação de nossa jihad (guerra santa)¿, discursou o líder religioso da aldeia atacada, Roohul Amin. O líder pró-Taleban Inayatur Rahman informou que um esquadrão de homens-bomba estava sendo recrutado para ataques contra o governo paquistanês.
Cerca de 20 mil pessoas, vindas de vários pontos da Área Tribal, se concentraram nas imediações dos escombros da escola aos gritos de ¿morte à América¿ e ¿morte a Musharraf¿. Outras manifestações menores - nas quais se repetiram as cenas de bandeiras americanas e retratos de Musharraf sendo queimados - se realizaram em cidades como Karachi, Peshawar, Multan, Quetta e Lahore.
Políticos de oposição a Musharraf aproveitaram os protestos para dar início a uma campanha para depor o presidente, um general que tomou o poder com um golpe de Estado em 1999 e manteve a presidência depois da vitória de sua coalizão nas eleições de 2002. O maior e mais radical partido islâmico do Paquistão, o Jamiat-i-Islamiya, convocou para hoje uma greve geral em todo o país.
Teme-se que a generalização dos protestos contra Musharraf reedite as violentas manifestações contra a publicação das charges do profeta Maomé, no primeiro semestre deste ano. Aqueles protestos deixaram dezenas de mortos no Paquistão.
Musharraf está entre a pressão dos grupos radicais de seu país - que o acusam de submeter sua política aos interesses dos Estados Unidos - e do Ocidente, que exige dele ações enérgicas para combater os militantes da milícia Taleban e da Al-Qaeda, que circulam livremente pela porosa fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.
Em setembro, as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - que combatem o Taleban e a Al-Qaeda no Afeganistão - deram um ultimato a Musharraf: ou agia para conter os grupos que agem na Área Tribal ou deixava o caminho livre para que os militares ocidentais o fizessem.
Em sua edição de ontem, o jornal britânico The Times analisou que a decisão de atacar a madrassa pode ser um indicador de que as opções de Musharraf para controlar as tribos da fronteira com o Afeganistão estão se esgotando. Antes do ataque, o governo vinha encontrando dificuldades insuperáveis para firmar acordos com os líderes tribais e fazê-los assumir o compromisso de não dar apoio aos combatentes do Afeganistão. O diário também qualificou de coincidência o fato de o príncipe Charles estar no Paquistão no momento do ataque. Após a ação na Área Tribal, a Casa Real Britânica cancelou uma visita do príncipe a Peshawar.
Por outro lado, a revista The Economist lembrou outra ofensiva de larga escala do Exército do Paquistão durante uma visita importante. Em março, quando o presidente americano, George W. Bush, visitava Islamabad, uma operação do Exército no Waziristão do Norte, também na Área Tribal, matou 45 supostos militantes.