Título: Paquistão usou informações dos EUA para ataque contra madrassa
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Internacional, p. A20

O governo paquistanês confirmou ontem ter utilizado dados de inteligência fornecidos pelos Estados Unidos para lançar o ataque de segunda-feira contra uma madrassa (escola religiosa islâmica) em Chingai, na Área Tribal semi-autônoma, na fronteira com o Afeganistão. Segundo informações do Exército, pelo menos 80 pessoas foram mortas no ataque com mísseis lançados de helicóptero contra a madrassa, utilizada como campo de treinamento por militantes da rede terrorista Al-Qaeda e da milícia afegã Taleban. De acordo com líderes tribais locais, porém, as vítimas eram estudantes de 10 a 15 anos.

Washington, que assegurou na véspera não ter participado da decisão ou da execução da ofensiva, esclareceu que os dados foram fornecidos no âmbito da cooperação de inteligência que mantém com o Paquistão e o Afeganistão desde 2001. O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, desmentiu os grupos radicais islâmicos, segundo os quais havia crianças entre os mortos. ¿Quem diz que havia inocentes lá está mentindo¿, disse. ¿Todos os mortos eram militantes (da Al-Qaeda).¿

Embora insistam que havia crianças entre as vítimas, os líderes islâmicos não apresentaram nenhuma foto ou documento que comprovasse essa afirmação. O Exército paquistanês negou que o alvo principal do ataque fosse o número 2 da Al-Qaeda, o egípcio Ayman al-Zawahiri. Mas confirmou que ele costuma freqüentar a região, um forte reduto da Al-Qaeda e do Taleban.

Segundo militares paquistaneses, Zawahiri não estava em Chingai na segunda-feira, mas foi morto um estreito colaborador dele, o líder religioso Liaquat Hussain. Outro clérigo ligado ao egípcio, Faqir Mohamed, havia deixado o prédio da madrassa 30 minutos antes do ataque.

No sábado, com slogans de exaltação ao líder supremo do Taleban, mulá Mohamed Omar, e ao chefe da Al-Qaeda, Osama bin Laden, dirigentes religiosos e tribais locais haviam realizado um protesto em Chingai contra os esforços do governo de Musharraf de intensificar as operações antiinsurgência na região. Segundo suspeitas dos Estados Unidos, grande quantidade de armas, provisões e combatentes partem da Área Tribal para os rebeldes do Afeganistão.