Título: Um protetor dos operários que a ditadura queria prender
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Vida&, p. A22

Foi numa pequena casa de madeira no fundo de um vale, em Batinga do Sul, interior gaúcho, que nasceu o menino Auri Afonso Hummes, em 8 de agosto de 1934. Passados 72 anos, da casa resta hoje um toco de metro e meio perdido no mato ralo. Batinga passou a pertencer ao município de Montenegro. E o menino Auri, que foi estudar num seminário franciscano em Taquari - onde preferia ficar no quarto tocando violino e lendo literatura juvenil -, ordenou-se padre em 1958, adotando o nome de Cláudio. Já era, então, amigo de um brilhante professor, o cardeal d. Aloisio Lorscheider.

Terceiro dos 14 filhos de Pedro Adão e Anna Maria Frank Hummes, mostrou vocação religiosa desde criancinha. Levado ao seminário em Taquari, saiu aos 17 anos para estudar Teologia em Divinópolis (MG), Filosofia em Garibaldi (RS) e em Roma. Especializou-se no Institut Oecumenique de Bossey, em Genebra.

Inteligente, convicto, disciplinado, um líder natural entre os amigos, d. Cláudio deixou sua marca nas greves do ABC paulista, em 1979 e 1980. Nomeado para a Diocese de Santo André, no momento em que o regime militar proibiu os operários de se reunirem, ele determinou que as igrejas do ABC abrissem as portas para as assembléias. Sem bravatas, conversou com coronéis. Pressionado pela própria Igreja, decidiu ir a Roma, ¿saber com Pedro¿ se estava errado. O papa João Paulo II abençoou seu trabalho e o mandou seguir em frente. Passado o pior momento, retirou a diocese desse trabalho. Os operários começavam, então, a criar o Partido dos Trabalhadores.