Título: Evo preparou tropas para tomar refinarias
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Economia, p. B1
O presidente boliviano, Evo Morales, admitiu ontem, em La Paz, que preparou tropas para invadir os megacampos de petróleo e gás da Petrobrás caso a companhia não aceitasse os termos da nacionalização dos hidrocarbonetos.
A ação seria deflagrada a partir da recusa da companhia brasileira de assinar um novo contrato de exploração e produção no país até o fim da noite de sábado. O governo pôs as Forças Armadas de prontidão para invadir instalações petroleiras já na madrugada de domingo.
'Se alguma empresa não assinasse o contrato, as Forças Armadas estavam totalmente preparadas para exercer o direito de propriedade', afirmou Evo, em entrevista coletiva para a imprensa estrangeira, no Palácio Quemado, sede do governo.
O artigo 3º do Decreto de Nacionalização dos Hidrocarbonetos, anunciado em 1º de maio, também com ocupação militar de um campo da Petrobrás, determinava a expulsão da companhia que se recusasse a assinar novos contratos.
'Dissemos, insistentemente, que necessitamos de sócios e não donos de nossos recursos naturais. E, se não houvesse (assinatura de) contratos, com segurança, haveria uma ampla mobilização das Forças Armadas', assegurou o presidente.
Evo justificou a decisão de usar a força para obter êxito na nacionalização dizendo que a ação serviria para que o Estado exercesse o direito de propriedade do petróleo e do gás. 'Nossas Forças Armadas iriam exercer os direitos de propriedade, como qualquer país, Estado ou governo', afirmou.
O governo brasileiro sabia da ameaça. Na semana anterior ao prazo final, o vice-presidente boliviano, Alvaro Garcia Linera, mandou um enviado a Brasília com o objetivo de dar um ultimato ao Brasil e informar que as Forças Armadas Bolivianas seriam acionadas para a tomada dos campos de petróleo e gás.
A tarefa coube a um vice-ministro do governo Evo, Héctor Arce. O governo brasileiro foi a imprensa para negar o ultimato, mas tratou de subir o tom com a Bolívia quando a história vazou para a imprensa.
A reportagem do Estado apurou que o vazamento da informação sobre a visita e o ultimato foi feito pela Petrobrás. A companhia estava descontente com o tom brando do próprio governo brasileiro em relação às negociações e à ameaça que se avizinhava.
Até aquele momento nenhuma proposta indicava acordo entre as partes. A companhia achava-se acuada nas tratativas com as autoridades bolivianas.
Ainda segundo uma fonte ouvida pelo Estado, a Petrobrás avaliou que, após a reação do governo brasileiro, a negociação melhorou.
NOVAS NEGOCIAÇÕES
Perguntado se o uso das Forças Armadas será recorrente nas negociações ainda pendentes com a Petrobrás, como no caso do controle das refinarias, Evo preferiu não responder diretamente.
Ele pediu à reportagem que perguntasse ao presidente Lula o que ele faria quando 'uma transnacional não respeita as normas do país e tampouco explora com equilíbrio os recursos naturais do país'.