Título: Declaração 'pesada' preocupa Itamaraty
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Economia, p. B1

O Itamaraty recebeu ontem com preocupação a declaração do presidente Evo Morales, da Bolívia, de que ordenaria a ocupação militar das instalações da Petrobrás no país caso o acordo com a estatal YPFB não tivesse sido concluído até sábado. A invasão, portanto, estaria programada para domingo - dia do segundo turno das eleições no Brasil, que culminou com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma fonte da diplomacia que acompanha os movimentos do governo boliviano afirmou que a manifestação de Morales foi 'pesada demais'. O Itamaraty acionou ontem sua embaixada em La Paz para confirmar declarações do líder boliviano e verificar se constituíram ameaças durante as negociações da semana passada. Questionado no fim da tarde de ontem sobre o assunto, os ministros de Minas e Energia, Silas Rondeau, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, preferiram não comentá-lo.

Até as declarações de ontem de Evo não havia indicações de outra possível ameaça implícita nas negociações entre a Petrobrás e a YPFB - a de uma invasão militar das unidades da companhia brasileira na Bolívia, caso o acordo não fosse concluído. Nem o Itamaraty nem o Ministério de Minas e Energia contaram com representantes na sala de negociações, em um prédio no centro de La Paz, entre os dias 23 e 28. Todas as conversas restringiram-se a diretores e técnicos da Petrobrás Bolívia e da YPFB, bem como a autoridades do governo Evo Morales.

O próprio Amorim só rebateu a segunda manifestação de Evo Morales em relação ao processo de nacionalização dos setores de gás e de petróleo, de que o Brasil deveria presentear as duas refinarias de petróleo da Petrobrás ao povo de seu país. 'Se ele (Evo Morales) fosse o Lula, presentearia a Bolívia com as duas refinarias. Mas como não é...', afirmou o chanceler, por meio da assessoria de imprensa do Itamaraty.