Título: Com mistura maior, álcool sobe e gasolina cai
Autor: Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Economia, p. B4

O governo federal vai autorizar o aumento da mistura do álcool anidro à gasolina de 20% para 23% a partir de 20 de novembro. A decisão, prevista antes para janeiro de 2007, foi ratificada ontem no Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), formado pelos ministérios da Agricultura, Fazenda, Minas e Energia e Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A resolução será publicada até o fim da semana no Diário Oficial da União e pode provocar uma redução inicial de 1,5% no preço da gasolina vendida nos postos, informou o diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan Filho. Os usineiros queriam a retomada da mistura em 25%, em vigor até fevereiro.

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que a empresa precisa de tempo para adaptar suas refinarias ao novo porcentual. Segundo ele, a cada mexida, a gasolina precisa ser adaptada para receber o álcool. Gabrielli reforçou que a mudança não altera o preço da gasolina nas refinarias, os quais seguem cotações internacionais.

O governo estima que a medida criará uma demanda de 306 milhões de litros de álcool e economia do mesmo volume de gasolina até 1.º de maio, quando começa a safra 2007/2008.

A queda no preço da gasolina ocorre porque o álcool anidro é mais barato e não sofre a incidência do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nem da Contribuição de Intervenção Sobre o Domínio Econômico (Cide).

PRESSÕES

É possível que essa redução no preço não dure muito, porque o preço do álcool deve ser pressionado pelo aumento na mistura do anidro à gasolina e pelo início da entressafra de cana-de-açúcar no Centro-Sul. O preço do etanol hidratado, utilizado nos veículos bicombustíveis ou movidos exclusivamente a álcool, também deve subir.

A pesquisadora Mirian Bacchi, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), diz que uma alta do álcool pode até impedir a queda no preço da gasolina de 1,5% prevista pelo governo . Mas Bressan descartou uma forte elevação no preço do álcool . 'O objetivo é preços em um nível razoável, para que o produtor tenha rentabilidade.'

A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), entidade que representa o setor de açúcar e álcool, elogiou a mudança, mas defendeu o porcentual de 25%. De acordo com a Unica, o porcentual traz ganho ambiental expressivo nas cidades e tem impacto positivo imediato no preço da gasolina.

O consultor Plínio Nastari, da Datagro Consultoria, também defende a adição de 25%. 'O Brasil poderia economizar mais se adicionasse 25% de anidro, pois reduziria importações de petróleo.' Nastari ressalta que o abastecimento de álcool seria garantido com 25% porque as exportações brasileiras do produto devem cair em 2007 com a saída dos Estados Unidos do mercado importador.

Para Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, a elevação da adição para 23% e não para 25% pode ser uma estratégia para sustentar o preço da gasolina. 'Uma adição de mais anidro tornaria o preço da gasolina mais barato e talvez o governo queira repassar a alta do preço do petróleo para o preço do combustível neste momento', disse.