Título: 'Brasil patinou nos últimos anos'
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2006, Economia, p. B7
O Brasil precisará apresentar um aumento de seu PIB de 5% a 7% por ano por mais de uma década para conseguir superar seus problemas de pobreza e desigualdade. A avaliação é do americano Lawrence Klein, Prêmio Nobel de Economia nos anos 80 graças a seus trabalhos de previsão de crescimento econômico nos países.
Professor emérito hoje da Universidade da Pensilvânia, Klein destaca em entrevista ao Estado que o Brasil 'patinou' nos últimos anos, enquanto países como a China, Índia e Rússia conseguiram crescer a taxas mais elevadas. 'Falava-se muito no início da década nos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) como um bloco de países. Mas acho que o Brasil ficou para trás', disse.
'O Brasil tem todas as condições para crescer. O País tem uma base industrial importante e ainda é exportador de produtos agrícolas que estão com preços favoráveis, como o açúcar. Mas acredito que não conseguiu seguir o mesmo padrão das demais grandes economias emergentes por problemas políticos. A administração não soube tirar vantagem de um cenário internacional positivo para crescer mais', afirmou Lawrence Klein, pioneiro nas previsões econômicas usando modelos matemáticos e formulador de projetos de crescimento para governos como o do Canadá, Japão e Reino Unido.
'O crescimento da economia brasileira poderá ser maior do que vem apresentando nos últimos anos. Mas, ainda assim, acho que o País perdeu a chance de crescer durante um período em que a situação internacional era adequada', avaliou.
Nos últimos anos, a liquidez nos mercados internacionais e o crescimento de economias como a dos Estados Unidos contribuíram para o aumento do PIB de regiões em desenvolvimento. O mesmo padrão poderia não se repetir a partir de 2007. 'Estamos vendo sinais de desgaste no ritmo de crescimento internacional', afirmou.
Na avaliação de Klein, ainda que a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva tenha um impacto importante no rumo da economia, o que mais influenciará no crescimento do PIB será o volume da dívida interna, que ele considera elevado. 'Se isso não for resolvido, dificilmente a economia deslanchará', alertou.