Título: Chávez põe Lula de cabo eleitoral
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2006, Nacional, p. A5

A apenas 19 dias das eleições presidenciais na Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai figurar hoje como cabo eleitoral de seu companheiro Hugo Chávez, presidente do país vizinho há sete anos que pleiteia novo mandato de mais seis anos. A rigor, trata-se de uma espécie de retribuição de Lula ao silêncio mantido por Chávez durante a campanha eleitoral brasileira. Se eleito em 3 de dezembro, Chávez fará ¿companhia¿ a Lula até 2010, quando se encerrará o mandato do presidente brasileiro.

Lula e Chávez vão inaugurar nesta manhã a Orinoquia, segunda ponte sobre o Rio Orinoco, feita pela construtora brasileira Odebrecht com créditos do Programa de Financiamento às Exportações (Proex). São aguardadas 30 mil pessoas para a cerimônia. Horas depois, vão certificar as reservas de Carabobo 1, um dos blocos petrolíferos da região do Orinoco que será explorado pela Petrobrás, em parceria com a Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA). Lula desembarcaria às 22 horas de ontem (meia-noite em Brasília) em Puerto Órdaz e passaria 20 horas em território venezuelano. Às 18 horas de hoje (20 horas em Brasília), deverá retornar ao Brasil.

A presença de Lula na Venezuela neste momento de campanha tenderá a beneficiar Chávez especialmente entre a fatia do eleitorado mais esclarecida e avessa a sua continuação no poder. São eleitores que vêem no brasileiro um líder mais ponderado de esquerda, mais flexível aos conceitos neoliberais e mais respeitoso às instituições democráticas. A agenda de Lula hoje, na Venezuela, vai se somar a uma série de atos de Chávez que mesclam sua ação como presidente e candidato.

Menos regrada que no Brasil, a campanha eleitoral venezuelana não impede inaugurações no período anterior à votação. E Chávez aproveita toda oportunidade para ampliar sua margem em relação a seu mais forte opositor, o empresário Manuel Rosales, ex-governador do Estado de Zulia. Anteontem, o atual presidente do país foi até a Base Aérea de La Carlota para receber a cantora colombiana Shakira, que era esperada por fãs.

Mais tarde, na inauguração do Campo Industrial no Complexo Petrolífero El Tablazo, destacou que sua campanha é ¿contra o império¿, numa referência aos Estados Unidos, e atacou Rosales, ao chamá-lo de ¿majunche¿ - expressão depreciativa, com significado similar ao de ¿cafajeste¿. ¿Eu me sinto no caminho de Cristo. Ele era socialista. Aceito as críticas a isso. Falo como Fidel Castro: a história me absolverá¿, afirmou aos eleitores.

Apesar das suspeitas de manipulação de resultados, as pesquisas eleitorais realizadas na Venezuela apontam a vitória de Chávez. Sondagem feita pela empresa americana Evans/McDonough com 2 mil pessoas, entre 26 de outubro e 3 de novembro, indicou a vantagem de Chávez, com 57% das intenções de voto, contra 35% para Rosales. Questionados sobre a primeira idéia que lhes surgia quando ouviam o nome de Chávez, 27% dos entrevistados afirmaram que era ¿o melhor presidente¿, enquanto 17% asseguraram que era ¿ditador¿.

Outra pesquisa, realizada pela Zogbi Internacional com apoio da Universidade de Miami, entre 1º e 16 de outubro, mostrava o presidente com 59% das intenções de voto, enquanto Rosales estava com 24%. Nessa pesquisa, foi questionada a opinião dos eleitores sobre a iniciativa de Chávez de chamar o presidente americano, George W. Bush, de ¿diabo¿ em seu discurso na Assembléia-Geral das Nações Unidas, em setembro passado. Dos entrevistados, 36% afirmaram ter sentido ¿orgulho¿ de Chávez, mas 23% disseram-se ¿envergonhados¿.