Título: Exame oficial de universitários é marcado por confusões
Autor: Guerra, Flávia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2006, Vida&, p. A14

O que seria uma tarde tranqüila que encerraria o primeiro ciclo do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), avaliação dos cursos de ensino superior aplicada pelo Ministério da Educação em substituição ao antigo Provão, acabou ontem em confusão com endereços de escolas e protestos em alguns Estados do País.

Em São Paulo, na porta do Colégio São Judas Tadeu, na zona leste, cerca de 150 estudantes bradavam contra os responsáveis pela escola e pelo Enade. A manifestação ocorreu por um problema na divulgação do endereço na carta de convocação. ¿Está escrito aqui: Rua da Mooca, 2.817, mas neste lugar só tem um portão e uma viela e nenhuma placa assinalando onde fica mesmo a escola, que é na Rua Clark, 213, a rua de trás. É um absurdo¿, reclamava Alexandre Palo, estudante de cinema da Faap, exibindo boletim de ocorrência coletivo feito no 8º Distrito Policial, na Mooca.

¿O problema começou porque hoje também tem vestibular na Universidade São Judas Tadeu, que fica aqui do lado. E lá também estava a maior confusão. Cheguei 15 minutos antes e levei um tempo para perceber que estava no lugar errado. Quando descobri onde era o colégio, já eram 13h08. Não me conformo¿, continuou Ana Paula Santos, estudante de Jornalismo da Universidade Anhembi-Morumbi.

Os estudantes, com medo de terem de esperar pelo menos mais um ano para retirarem o diploma, se reuniram e fizeram um boletim de ocorrência coletivo. O problema se repetiu em outras regiões da cidade. Segundo o Inep, os alunos que se sentirem prejudicados podem recorrer à instituição. As informações sobre como proceder devem estar no site www.inep.gov.br a partir de hoje. O gabarito e as provas também podem ser consultados pela internet.

Em Campinas, na Escola Estadual Professor A. de Oliveira Coelho, o Enade também virou caso de polícia. O estudante de Artes Cênicas Murilo de Paula Souza, do 4º ano da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tirou a roupa e ficou nu na sala de aula em protesto contra a realização da prova.

Os funcionários que estavam aplicando o exame chamaram a Polícia Militar. Com parte do corpo riscado com a frase ¿avaliem a arte de outra forma¿, ele foi retirado da sala. Cerca de 30 estudantes que também prestariam a prova abandonaram o local em solidariedade ao manifestante. Todos foram ouvidos na delegacia.

Em Brasília e Vitória, o dia também foi marcado por protestos de estudantes em escolas, que contestavam a forma de avaliação de seus cursos.

Em Salvador, por causa do horário de verão, que começou na semana passada, mas não existe nas regiões Norte e Nordeste, parte dos alunos teve problemas com horário. Eles chegaram uma hora atrasados e não fizeram a prova.

CICLOS Neste ano, foram avaliados alunos do último e maior grupo de cursos de ensino superior, que inclui Administração, Direito e Psicologia, com quase meio milhão de participantes. A partir de 2007, com a repetição das áreas já avaliadas, as comparações entre desempenho de alunos dos primeiros e dos últimos anos dos cursos - a maior inovação do Enade - poderão enfim ser feitas.

A partir de então as análises do MEC permitirão mostrar o quanto universidades e faculdades agregam de conhecimento aos seus estudantes. Isso porque os ingressantes da área de Saúde, por exemplo, que fizeram o Enade em 2004, poderão participar do exame novamente em 2007, como formandos.

O Enade propõe provas de conhecimentos gerais e específicos de cada carreira avaliada. O conceito dado ao curso, que varia de 1 a 5, é formulado a partir de 15% da nota dos ingressantes e 60% da nota dos concluintes na prova específica e 25% da nota dos dois grupos em conhecimentos gerais.

O exame faz parte do Sistema de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), que avalia ainda professores e estrutura dos cursos.