Título: Real valorizado inibe crescimento
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2006, Economia, p. B5

A polêmica sobre o nível da taxa de câmbio no Brasil voltou ao debate econômico. O assunto ganhou fôlego depois que o secretário-adjunto de Política Econômica, Nelson Barbosa, revelou ao Estado, na semana passada, que a taxa de câmbio preocupa o governo. E subiu de intensidade com as duras críticas feitas à política cambial, na quinta-feira, pelo diretor de Finanças da Companhia Vale do Rio Doce, Fábio Barbosa. Ele disse que a valorização do real frente ao dólar vem aumentando muito os custos da empresa.

Analistas ouvidos pela reportagem concordam que o real valorizado em relação ao dólar prejudica diferentes setores econômicos, como admitiu na quinta-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mas eles divergem se o tema deve ser alvo das preocupações da equipe econômica.

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, especialista em setor externo, é da ala que acredita que esse é um dos problemas centrais da política econômica e precisa ser enfrentado pelo governo.

Para Lacerda, o câmbio apreciado inibe o crescimento mais acelerado do País. Crescimento que o governo reeleito de Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu como meta para o próximo mandato. ¿O Brasil teve a taxa de câmbio que mais se valorizou no mundo nos últimos anos. Esse é um fator que tira a competitividade da produção nacional, que já sofre com carga tributária elevada, burocracia e infra-estrutura ruim¿, afirmou o economista.

AJUSTE FISCAL Na visão de Lacerda, a solução para a questão cambial passa necessariamente por uma ¿reordenação¿ na política fiscal - leia-se controle de gastos -, que, ao diminuir a necessidade do governo de tomar recursos no mercado, permita uma queda mais acentuada na taxa de juros.

O economista acredita que as desonerações tributárias para o setor exportador são positivas, mas ¿paliativas¿. Em outras palavras, o economista quer um ajuste fiscal que, atacando os gastos públicos, permita que o juro real caia com velocidade maior e, dessa forma, diminua a entrada de capitais especulativos na economia e faça o real se desvalorizar.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, concorda que um ajuste fiscal ¿para valer¿ vai permitir uma queda mais acentuada no juro e ajudar a depreciar um pouco a taxa de câmbio. Mas ressalta que esse não é o motivo principal da valorização da moeda brasileira, que, segundo ele, é determinado pelos expressivos saldos na balança comercial, que provocam a entrada de grandes volumes de dólares no País.

Vale considera que o Ministério da Fazenda entrou no ¿debate errado¿ ao demonstrar preocupação com o efeito do câmbio na economia. ¿O Ministério da Fazenda não tem nada para fazer em relação ao câmbio¿, disse ele. ¿O que é preciso é fazer uma reforma fiscal séria, com cortes de despesas públicas que permitam a redução de custos tributários para as empresas e também reduzam, por meio de investimentos públicos, os custos de infra-estrutura, elevando assim a competitividade da produção nacional¿, acrescentou.

O economista defende o corte de gastos com pessoal, custeio e uma reforma da Previdência. ¿Sem isso, o Brasil vai continuar a crescer mediocremente¿, afirmou.