Título: Escolha técnica, a fórmula para frear amigos
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2006, Nacional, p. A12
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se arrepende de ter entupido de companheiros do PT sua primeira equipe ministerial em 2003. Na semana retrasada, durante encontro com governadores, reconheceu publicamente que foi um erro nomear tantos companheiros para seu governo. Disse que precisava ter 'mais técnicos e gênios do que amigos'. De fato, os resultados dessa estratégia foram desastrosos de saída para o governo, que permaneceu praticamente empacado por todo o primeiro ano.
Na ocasião, a equipe abrigava vários políticos petistas derrotados nas eleições para governos estaduais e para o Senado. Ganharam cargos no primeiro escalão como prêmio de consolação pelo fracasso na campanha.
Assim, Lula nomeou aliados derrotados para postos importantes como os de ministros da Saúde (Humberto Costa), Educação (Cristovam Buarque), Trabalho (Jaques Wagner), Ação Social (Benedita da Silva), Pesca (José Fritsch), Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Tarso Genro), Secretaria da Mulher (Emília Fernandes), Direitos Humanos (Nilmário Miranda), além de outros cargos-chave, como a presidência da Petrobrás (José Eduardo Dutra).
O aparelhamento petista da primeira equipe de governo foi tão intenso que atingiu até mesmo ministérios entregues a outros partidos. Para manter o controle do governo centralizado, em vários casos Lula nomeou secretários-executivos do PT para tocar ministérios para aliados. O PL foi o primeiro partido a reclamar publicamente da não-entrega do chamado 'ministério de porta fechada'.
Titular do Ministério dos Transportes com Anderson Adauto, o PL teve que aceitar a indicação do petista Keiji Kanashiro para a secretaria-executiva da pasta. Pouco depois, Anderson Adauto e os dirigentes do PL começaram a reclamar da incompatibilidade com Kanashiro.
Agora, será diferente. Lula decidiu que vai entregar também aos partidos aliados os principais postos dos ministérios que forem destinados a eles. Dessa forma, avalia que terá mais força para cobrar resultados sobre as ações de cada pasta.
Lula quer seguir o modelo de ministério adotado com a última equipe que montou. Em abril deste ano, o presidente precisou optar por soluções técnicas, já que vários ministros tiveram que deixar seus cargos para disputar as eleições.
ELOGIOS
Nos últimos dias, Lula tem contado a interlocutores que ficou surpreso com o desempenho da atual equipe. Por terem o perfil mais técnico e não serem políticos, os atuais ministros têm mostrado desempenho melhor e grande interesse em produzir resultados.
Por causa das composições políticas, Lula sabe que não poderá abrir mão de indicar parlamentares para as pastas. Mas não quer fazer as indicações baseadas apenas no nome ou no peso do político, mas também no valor técnico que eles possam agregar ao governo. O presidente acha exemplar o caso de Silas Rondeau no Ministério de Minas e Energia. Ele é cota do senador José Sarney (PMDB-AP), mas não é parlamentar e tem o endosso técnico da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Lula quer soluções para ocupar os ministérios justamente com esse tipo de perfil.