Título: Com menos interferência, Lula promete surpresas no ministério
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2006, Nacional, p. A12
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende começar o segundo mandato, em 2007, indicando pela primeira vez uma equipe ministerial definida basicamente por seus critérios de escolha, sem grande interferência de aliados ou dirigentes partidários. As mudanças no primeiro escalão se tornaram rotina desde que o presidente assumiu em 2003. A partir de 2007, o quinto ano de seu governo, Lula terá a quinta equipe ministerial, na média de uma por ano.
Para interlocutores, o presidente diz apostar que essa equipe vai durar mais tempo e apresentar melhores resultados de gestão do que as anteriores. O motivo é simples: nas antigas composições ministeriais, Lula sempre atendeu a sugestões de auxiliares influentes, como os ex-ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação de Governo. Agora, o próprio presidente tomou a frente dessas negociações. E já avisou que fará os convites que considerar convenientes para o bom andamento do governo, independentemente das contrariedades que isso poderá causar até mesmo dentro de seu partido, o PT.
Assim, o presidente caminha para escolher um ministério com menos espaço para abrigar petistas e com mais vagas para partidos aliados, como PMDB, PP, PTB, PL, PSB, PC do B e PV. Nessa nova composição, Lula estuda mudanças surpreendentes. Pode trocar ministros considerados intocáveis até então, como a petista Marina Silva, do Meio Ambiente, e entregar pastas como a da Agricultura para antigos adversários políticos.
No caso do Meio Ambiente, Lula não esconde seu aborrecimento pelos entraves impostos às concessões de licenciamento ambiental para obras de infra-estrutura que considera importantes para garantir o crescimento do País. Mesmo sabendo o tamanho do desgaste para a imagem do governo que a saída de Marina provocaria - ela é extremamente respeitada entre os ambientalistas do Brasil e do exterior -, o presidente está insatisfeito com a atual situação e pode mexer no setor.
Nesse caso, a sua principal opção seria técnica, podendo indicar o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, que tem perfil gerencial. Kelman também conhece bem a área ambiental, uma vez que dirigiu a Agência Nacional de Águas (ANA) no próprio governo Lula, antes de se transferir para a Aneel.
EX-OPOSITOR
A extensão de mudanças no perfil da próxima equipe ministerial poderá abrir espaços para velhos opositores do PT. Talvez seja o caso da provável opção pelo ex-deputado Hugo Biehl (PP-SC) para ocupar o Ministério da Agricultura.
Essa é uma indicação aprovada pelo ex-governador e ex-senador de Santa Catarina Esperidião Amin (PP), que passou anos em briga aberta com os petistas, especialmente nas sessões do Senado. Na última eleição, a oposição ao governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), aproximou Amin do PT local, com quem fechou uma aliança.
Na Justiça, o presidente não conta mais com o ministro Márcio Thomaz Bastos, que lhe comunicou sua decisão de se afastar do posto antes mesmo do término da eleição.
Bastos já se despediu de auxiliares no ministério e deixa um problema para o presidente. Além de ter se tornado um dos conselheiros mais próximos de Lula, o ministro garantiu ao governo nos últimos quatro anos fidelidade total numa área de grande caráter estratégico, responsável, por exemplo, pela Polícia Federal - que atraiu holofotes no governo petista.
TARSO
Por conta disso, o presidente caminha para escolher o atual ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, para substituir Bastos. Será a quinta missão diferente que Genro receberá do presidente. Começou como ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Passou para a Educação e recebeu o pedido de Lula para presidir o PT interinamente enquanto o partido colava seus cacos por conta do envolvimento de seus principais dirigentes com o escândalo do mensalão. Em seguida, foi para Relações Institucionais e agora deve parar na Justiça.
A saída de Tarso abre uma posição importante no Ministério das Relações Institucionais. O escolhido para o posto deverá ser o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT), que já tem, inclusive, ajudado nas articulações políticas do governo.
Lula decidiu que suas indicações seguirão sua sensibilidade para avaliar o momento político e tendo como foco central a escolha de auxiliares que possam ajudar o governo a produzir finalmente o crescimento da economia até 2010. No primeiro mandato, o governo produziu números medíocres nessa área, que serviram como arma para os ataques da oposição. Agora, a palavra de ordem é crescimento.