Título: Para Jungmann, Câmara arrisca se desmoralizar
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2006, Nacional, p. A15

O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, Raul Jungmann (PPS-PE), afirmou ontem que a Câmara dos Deputados caminha para a autodesmoralização, por causa da possibilidade muito clara de agir corporativamente e absolver os parlamentares envolvidos com a venda superfaturada de ambulâncias. 'Tomando essa atitude, a Câmara terá renunciado à sua autonomia e à condição de juíza de si própria. Será completamente desmoralizada', afirmou Jungmann.

Ele disse que, por não ter tempo para fazer investigações mais profundas, a CPI dos Sanguesseugas decidiu encaminhar ao Conselho de Ética da Câmara o pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra todos os deputados suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias. 'Caberia ao Conselho de Ética aprofundar as investigações, absolver os que não têm culpa e condenar os culpados. Essa era a idéia inicial e por isso a CPI a adotou.'

Acontece que o Conselho de Ética não aprofundou nenhuma das investigações. Tende, portanto, a repetir na Câmara o que ocorreu no Senado, quando três senadores suspeitos - Ney Suassuna (PMDB-PB), Serys Shlessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PL-ES) - livraram-se do processo. Ney Suassuna ainda recebeu uma advertência verbal, sem maior impacto; os outros dois foram declarados inocentes, por alegada falta de provas.

No jogo de empurra-empurra entre a CPI dos Sanguessugas e o Conselho de Ética, o deputado Ricardo Izar (PTB-SP), que preside o conselho, se defende. Afirma que a CPI não teve o cuidado de investigar os suspeitos de participação nas irregularidades. Apenas mandou o pacote de nomes para o conselho. Izar culpa ainda a véspera da eleição pela falta de investigações. E avisa que o Conselho de Ética não é um tribunal de exceção.

A idéia corrente no conselho é arquivar os processos que envolvem deputados não reeleitos e que não forem julgados até o fim do ano - a maioria absoluta. Dos 67 acusados, apenas cinco conseguirem voltar para a Câmara. São eles Pedro Henry (PP-MT), Wellington Fagundes (PL-MT), Wellington Roberto (PL-PB), Marcondes Gadelha (PSB-PB) e João Magalhães (PMDB-MG).

Ricardo Izar calcula que o Conselho de Ética conseguirá apreciar, no máximo, 10 casos até 22 de dezembro, quando a Câmara deverá entrar em recesso. Izar arrisca-se a dizer que nenhum dos processos será enviado para o plenário neste ano. Na próxima legislatura, que começa em 1º de fevereiro, serão reabertos apenas processos de reeleitos. Como os parlamentares que não conseguiram se reeleger não serão mais deputados no ano que vem, o processo que corre contra eles no Conselho de Ética deverá ser arquivado.

Ricardo Izar informou ainda que enviará à Procuradoria-Geral da República, para providências, todos os depoimentos tomados pelo Conselho de Ética desde que os processos foram abertos.