Título: Fidel não aparece em parada militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2006, Internacional, p. A25

O líder cubano, Fidel Castro, não compareceu ontem à parada militar que encerrou as comemorações de seus 80 anos e do cinqüentenário de desembarque das chamadas Forças Armadas Revolucionárias na ilha. Quem comandou o desfile foi seu irmão mais novo, Raúl Castro, ministro da Defesa e presidente interino do país desde 31 de julho. A última vez em que Fidel apareceu em público foi em 26 de julho. A ausência no quinto e último dia dos festejos fez aumentarem as especulações de que o líder não terá condições de saúde para voltar ao comando do país. 'Isto significa que ele não voltará ao poder, com certeza', disse à Reuters um diplomata europeu que acompanhou a parada em Havana.

Durante o desfile militar - o primeiro em uma década -, Raúl Castro disse estar disposto a 'resolver em uma mesa de negociações' as divergências com os EUA, que mantêm um embargo comercial contra Cuba desde o início dos anos 60. 'Claro, desde que aceitem nossa condição de país que não tolera restrições a sua independência e sua base de princípios de igualdade, reciprocidade, não-interferência e respeito mútuo', acrescentou. Em resposta, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA declarou, na noite de ontem, que 'uma abertura política e uma transição à democracia' na ilha são pré-requisitos para negociar com Cuba.

Cerca de 300 mil pessoas acompanharam o desfile militar, segundo fontes do governo cubano, na Praça da Revolução. Entre as personalidades presentes estavam os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Haiti, Rene Préval, o presidente eleito da Nicarágua, Daniel Ortega, e o escritor colombiano Gabriel García Márquez. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tenta a reeleição hoje, enviou o chanceler Nicolás Maduro para representá-lo. Numa mensagem divulgada ontem em Havana, Chávez dedicou a Fidel a vitória que espera obter hoje, 'uma vitória que vai assombrar o mundo'.

Raúl Castro passou as tropas em revista, depois de uma salva de 21 tiros de canhão, e dedicou o momento 'ao fundador e comandante-chefe'. Ele ressaltou a 'unidade monolítica' do país como 'principal arma estratégica, que permitiu a uma pequena ilha resistir e vencer tantas agressões do imperialismo e de seus aliados'.

Em meia hora de discurso, Raúl não explicou a ausência do irmão mais velho. Informações sobre a saúde de Fidel são mantidas sob segredo de Estado. Para o governo americano, o líder cubano sofre de um câncer incurável e não sobreviveria até o fim do próximo ano. O governo cubano tem divulgado fotos e vídeos para provar que Fidel está bem, apesar da aparência pálida mostrada nas imagens.

O líder cubano completou 80 anos em 13 de agosto, mas adiou a celebração oficial para que tivesse tempo de se recuperar da cirurgia intestinal a que foi submetido no fim de julho. Entusiastas do regime cubano dentro e fora do país esperavam que Fidel comparecesse ontem à parada militar. O desfile lembrou o desembarque em Cuba, em 1956, de 82 revolucionários liderados por Fidel, vindos do exílio no México a bordo do iate Granma. Em 1959, as forças de Fidel derrubaram o regime de Fulgencio Batista.