Título: Lula reúne ministros e ordena fim do fogo amigo contra Meirelles
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu ontem para acabar com o fogo amigo contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Em reunião com os ministros da área econômica, no Palácio do Planalto, encomendou medidas para acelerar o crescimento do País, sem mudar os pilares da política econômica. Num claro recado aos desenvolvimentistas, Meirelles estava à mesa e recebeu afagos do presidente, que disse estar satisfeito com o controle da inflação. Lula também avisou aos ministros que não quer curto-circuito público na área econômica, principalmente agora, na temporada de especulações sobre a montagem do novo ministério.

Durante o encontro, que durou três horas, o presidente afirmou de forma enfática que os pilares da política econômica, como o orçamento equilibrado, o superávit primário e o regime de metas de inflação não mudarão. Mais: relembrou que o comando da política econômica é dele e sepultou as pretensões de quem esperava uma guinada, como um corte drástico na taxa de juros.

Lula pediu o fim do debate público sobre os rumos do governo e reclamou da crise aberta pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que declarou o fim da 'era Palocci'. À tarde, depois de ser enquadrado, Tarso foi obrigado a recuar da declaração. Na tentativa de desfazer o mal-estar, o ministro chegou até a elogiar a política monetária praticada pelo Banco Central.

Do encontro participaram dois ministros da ala desenvolvimentista: Guido Mantega, da Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Também estava presente o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, de uma ala mais 'light', e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, identificado como da linha 'conservadora'.

Na reunião, Lula pediu sugestões para acelerar o crescimento sem mudar as linhas básicas da política econômica e sem sacrificar os programas sociais. Um dos pontos centrais foi a discussão sobre como aumentar os investimentos públicos e privados. Foram apresentadas mais de 50 sugestões e Lula pediu que os ministros pusessem no papel os tópicos consensuais, a partir dos quais será preparada uma agenda para o diálogo com os governadores e o Congresso. Uma nova rodada deverá ocorrer em 15 ou 20 dias.

Os ministros concordaram em quatro pontos. O primeiro, que é preciso adotar medidas na área fiscal, ou seja, conter despesas. O segundo é a necessidade de cortar tributos sobre os investimentos do setor privado. Mantega já declarou que os bens de capital são fortes candidatos a ter redução de impostos. É uma medida defendida também por Furlan. Esbarra, no entanto, na necessidade de manter as contas públicas equilibradas. Todos concordaram, ainda, que é preciso aumentar os investimentos em infra-estrutura e melhorar a gestão da máquina pública.

QUADRADO MÁGICO

Num movimento coordenado, o balde de água fria nos desenvolvimentistas também pôde ser visto no Congresso. 'Está na hora de descer do palanque, a eleição já acabou', resumiu o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele afirmou que é necessário reconhecer o mérito de Meirelles e do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. 'Seria injustiça não reconhecer a contribuição deles para a vitória política espetacular do presidente Lula.'

Para o deputado Carlito Merss (PT-SC), Meirelles tem razão ao afirmar que parte dos resultados eleitorais de Lula se deve à derrubada da inflação. 'Hoje, o povo compra arroz, feijão, carne mais baratos. Isso é resultado da política monetária.'

Merss defendeu a permanência do que chamou de 'quadrado mágico' no governo - o time composto por Tarso, Mantega, Meirelles e Dilma . 'Cada um deles dá o tensionamento necessário ao governo e todos se complementam. Foi por isso que ganhamos a eleição.'