Título: Briga sobre rumos da economia é recorrente
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Nacional, p. A5

Monetaristas e desenvolvimentistas, que aparentemente afiam armas para mais um embate em torno da condução da política econômica, agora no novo governo Lula, protagonizam provavelmente o mais longa disputa da política nacional. Desde que a economia começou a perder força, em 1996, depois que o Plano Real iniciou a derrubada da inflação dois anos antes, ao custo de altas taxas de juros e âncora cambial, os adeptos das duas correntes se confrontaram, em três governos. Com sucessivas vitórias do monetarismo que, apesar do barulho dos adversários, conseguiu manter o País na cartilha da ortodoxia - linha dura com a inflação, mesmo que o custo seja, segundo os críticos, queda no crescimento e no nível de emprego.

A briga vem dos anos 90. De olho na eleição de 1994 e enfrentando inflação de 2.477,15% em 1993, segundo o IPCA, o presidente Itamar Franco deslocou do Ministério das Relações Exteriores para o Ministério da Fazenda o tucano Fernando Henrique Cardoso, que adotou o Plano Real. Ao fim de 94, a inflação caíra para 916,46%, e a economia crescera 5,85%.

FHC, candidato a presidente, venceu no primeiro turno. No governo, reduziu ano a ano a inflação: pelo IPCA, 22,41% em 1995, 9,56% em 1996, 5,22% em 1997 e 1,66% em 1998. Mas, em paralelo, a economia também perdeu ritmo. Nos mesmos anos, o PIB cresceu 4,22%, 2,66%, 3,27% e 0,13%. Os tucanos dizem que o País foi atingido por crises externas. Mas no governo intensificou-se o confronto entre os monetaristas, adeptos dos juros altos e da contenção de gastos, capitaneados pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, e os desenvolvimentistas, chefiados pelo ministro do Planejamento, depois Saúde, José Serra, defensores da baixa de juros e aumento dos gastos públicos.

O confronto continuou no segundo governo FHC. A dívida pública, que em 1994 era em torno de 30% do PIB, dobrara, e só não subiu mais pela adoção do superávit primário de 3,75% . A inflação foi de 8,94% em 1999, 5,97% em 2000, 7,67% em 2001 e 12,53% em 2002. O PIB patinou: 0,79%, 4,36%, 1,31% e 1,93%.

MAIS DO MESMO

Esperava-se que Lula ignorasse a polêmica, mas na campanha de 2002, com a economia convulsionada pelo esquerdismo do favorito, ele divulgou a Carta ao Povo Brasileiro: ¿Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário.¿

Houve quem achasse que era só conversa de candidato, mas no poder o PT aumentou o superávit para 4,25%. Obra do novo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que manteve e até aprofundou a política econômica tucana. Do outro lado, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, desenvolvimentista. Para conter preços, a ortodoxia funcionou: a inflação foi de 9,3% em 2003, 7,6% em 2004, 5,69% em 2005. Não para crescer: em 2004, o PIB subiu 4,94%, 0,54% em 2003 e 2,28% em 2005.

Dirceu e Palocci brigaram até a queda do primeiro, no caso do mensalão. Em novembro de 2005, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comandou nova ofensiva desenvolvimentista. Disse que o ajuste fiscal de longo prazo em gestação era ¿rudimentar¿. Palocci balançou, mas não caiu. Cairia em março, após a violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Palocci foi substituído por Guido Mantega, desenvolvimentista cauteloso, que tem ficado menos na prática e mais no discurso.