Título: CUT acha debate sobre paralisação 'precipitado'
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Nacional, p. A8
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) ainda não recebeu nenhuma proposta de greve geral no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas considera o debate prematuro. ¿Não sou contra, mas acho precipitado¿, diz Antonio Carlos Spis, que representa a central na Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais, organização que reúne 32 entidades de porte nacional, entre elas o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Marcha Mundial de Mulheres, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
¿O governo só toma posse no dia 1º de janeiro e ainda nem preparamos uma pauta de reivindicações em torno da qual podemos negociar¿, destaca o líder da CUT. Na opinião dele, deve-se começar a falar de greve somente se o governo não atender às reivindicações e depois de esgotadas as possibilidades de negociação.
POLÍTICA ECONÔMICA
Spis também considera apressada a idéia de uma greve contra a política econômica do governo Lula: ¿Devemos pensar nisso mais tarde, se constatarmos que permanece no segundo mandato o viés financista que foi a tônica do primeiro.¿
Para os críticos à esquerda da CUT, instalados na Intersindical e na Comlutas (organização ligada ao PSTU), ela se tornou uma correia de transmissão das decisões do PT e do governo. Lembram que o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho, saiu da presidência da CUT, em São Paulo, para a Esplanada dos Ministérios. Essa proximidade deverá favorecer o governo no debate sobre reformas trabalhistas.
¿Existem setores do PT e do governo que defendem a redução dos direitos trabalhistas¿, diz Manoel Melato, líder da Intersindical. ¿Isso ficou claro quando o ex-ministro do Trabalho e petista Jaques Wagner disse que a CLT está cheia de penduricalhos.¿
ILUSÃO
Para Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, até agora não existe nenhum indicador de que Lula pretenda mudar a política econômica no próximo mandato. ¿Seria uma ilusão, das mais mirabolantes, acreditar que o presidente Lula vai mudar sua política econômica. Vamos continuar criticando e lutando contra essa política.¿
Ele acredita que está chegando ao fim no meio dos movimentos populares a idéia de que a eleição de Lula seria suficiente para resolver os problemas sociais. ¿É a síntese de um processo que remete ao fortalecimento do movimento social, desatrelado cada vez mais dos partidos políticos, buscando sua autonomia, em processos de luta para garantir suas reivindicações imediatas e enfrentar o modelo econômico.¿
Ao rebater a crítica de alguns intelectuais de que, assim como a CUT, o MST teria sido cooptado pelo governo Lula, Gilmar diz: ¿Na nossa militância há um descontentamento muito grande com as políticas adotadas. A tendência no segundo mandato é haver muito mais lutas do que no primeiro mandato. E não só do MST.¿