Título: MST quer greve geral para mudar economia
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Nacional, p. A8

Descontente com os resultados do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Movimento dos Sem-Terra (MST) prepara-se para intensificar suas lutas no ano que vem. Também começa a analisar com outras organizações a possibilidade de uma greve geral contra a política econômica, que poderia acontecer em maio. ¿Temos perspectivas de lutas bastante intensas em abril e maio em nosso País¿, diz Gilmar Mauro, da coordenação nacional da organização.

O ciclo de invasões de terras que o movimento costuma promover no mês de abril em todo o Brasil já está sendo articulado. O objetivo é chamar a atenção para a questão da reforma agrária com uma série mais intensa de ações que a do chamado abril vermelho, que resultou em 103 invasões em 2004. Em maio, o MST pretende desembarcar 15 mil militantes em Brasília, para a realização do congresso nacional da organização.

A greve geral, da qual se fala principalmente no Sul do País, teria dois objetivos: conter as reformas previstas na área trabalhista e forçar o governo a dar mais atenção às questões sociais, com mudanças na política econômica. O assunto deve aparecer na pauta da próxima reunião da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais, marcada para o dia 11, na escola de formação de quadros que o MST mantém em Guararema, interior de São Paulo.

Quem começou a falar na greve foi a Intersindical, que reúne organizações descontentes com a atual política da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ela conta com o apoio do PSOL e de setores à esquerda do PT. Um de seus coordenadores, Manoel Melato, do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, avalia que as reformas trabalhistas que Lula pretende aprovar no próximo mandato, com a promessa de reduzir o custo Brasil, servirão na verdade para cortar mais direitos dos trabalhadores.

Melato teme que a CUT, a maior central sindical do País, com 22 milhões de trabalhadores, não faça oposição a essas reformas. ¿Até agora os líderes da CUT se adaptaram a tudo o que governo Lula quis e deve continuar assim¿, diz. ¿Por isso estamos articulando novas formas de luta para conter o ataque aos direitos trabalhistas.¿

Gilmar mostra simpatia pela idéia. Seria mais uma forma de unificar as ações dos sindicatos e movimentos - estratégia que o MST defende para empurrar o governo Lula para a esquerda.

¿Há uma tendência maior de unificação dos movimentos sociais¿, diz ele. ¿Passamos o fim de semana discutindo com setores do movimento sindical e com o movimento popular urbano. Há uma perspectiva de construção de unidade maior do que no passado e mais consciente. É preciso unificar para dar um salto de qualidade, no sentido de massificar as lutas.¿

No campo específico da questão agrária, o MST pretende apresentar ao governo Lula um conjunto de reivindicações, que, segundo Gilmar, podem ser atendidas. Uma delas é a melhoria dos níveis de escolarização nos assentamentos e comunidades rurais.

Além de visar ao fim do analfabetismo e evitar a evasão de jovens da zona rural, o movimento quer a difusão do ensino agroecológico por meio de escolas técnicas.