Título: Ministro demite Abdenur da embaixada nos EUA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Nacional, p. A13
Garantido para o segundo mandato do presidente Lula, o chanceler Celso Amorim iniciou ontem a reestruturação do Itamaraty pela demissão de Roberto Abdenur, seu amigo há 40 anos e um dos mais experientes diplomatas em atividade, da Embaixada do Brasil em Washington. Amorim também deu os primeiros passos para renovar postos de mando do ministério, com a nomeação do embaixador Roberto Jaguaribe para a subsecretaria de Assuntos Políticos 2 e a escolha, ainda não oficial, do ministro Roberto Azevêdo para a Subsecretaria de Assuntos Econômicos e Tecnológicos.
A demissão deflagrou uma série de rumores no Itamaraty e no Planalto. Mas a única coisa considerada certa até agora é a permanência da trinca que conduz a política exterior - Amorim, o secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Abdenur, 64 anos, dos quais 43 de carreira, foi informado da demissão na terça-feira, por telegrama. A razão oficial é o esgotamento do prazo de permanência de um embaixador em postos no exterior - 10 anos, prorrogáveis por mais 2. Ontem, o Itamaraty rebateu parte dos rumores. 'A remoção foi norma rotineira e decorreu do esgotamento do prazo de permanência', disse o próprio Amorim, por sua assessoria. 'Não foi política, mas administrativa.'
Mas fontes da diplomacia asseguram que a saída de Abdenur era carta marcada desde abril, quando as relações com Amorim ficaram estremecidas. Amigos de longa data, os dois quase não se falavam mais. Em palestra em São Paulo, Abdenur afirmou que o Brasil deveria abandonar a ilusão de que pode ter parceria estratégica com a China e ser mais pragmático. As declarações teriam irritado Amorim, que as interpretou como uma crítica à aproximação com a China. O Itamaraty teria enviado telegramas bastante duros ao embaixador.
O episódio deu início às especulações sobre a saída de Abdenur. Para fontes, ele era também mais 'arejado' ideologicamente do que setores do Itamaraty e estava um pouco frustrado com a falta de disposição do governo de intensificar o diálogo com os EUA.
Ontem, os mais cotados para seu lugar eram Ronaldo Sardenberg, embaixador do Brasil na ONU e ex-ministro do governo FHC, e Mauro Vieira, embaixador em Buenos Aires e ex-chefe de gabinete de Amorim. No Itamaraty é dada como certa também a escolha do subsecretário de Assuntos Políticos 1, Antônio Patriota, para substituir Sardenberg na ONU.