Título: EUA acusam complô contra governo libanês
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2006, Internacional, p. A21

Os EUA disseram ontem ter 'crescentes evidências' de que Síria, Irã e militantes do Hezbollah estão tentando depor o governo libanês e advertiram os dois países e o grupo xiita libanês contra qualquer atitude nesse sentido.

Em um duro comunicado, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, disse que qualquer tentativa de forjar demonstrações ou usar a violência ou ameaças físicas contra os líderes libaneses seria uma clara violação da soberania do Líbano e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Segundo Snow, há indicações de que o objetivo da Síria é impedir o governo do primeiro-ministro Fuad Siniora de aprovar um estatuto para um tribunal internacional que julgaria os acusados de envolvimento no assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, em fevereiro de 2005.

'O apoio à soberania, democracia e prosperidade no Líbano é o elemento-chave da política dos EUA no Oriente Médio', disse Snow.

A Embaixada da Síria em Washington qualificou ontem as declarações do governo americano de 'ridículas' e 'infundadas'. 'É uma pena que os EUA, a superpotência mundial, estejam se rebaixando com uma política tão mesquinha. O que está acontecendo no Líbano é um assunto puramente de política doméstica ... e a Síria respeita totalmente a soberania do Líbano e não interfere em sua política interna', indicou um comunicado da embaixada.

O porta-voz americano rejeitou citar as evidências das acusações dos EUA, dizendo que a informação era sigilosa. Mas o anúncio da Casa Branca foi feito um dia após o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, ameaçar com amplos protestos pedindo eleições antecipadas caso a coalizão de Siniora não concorde até o meio do mês com a formação de um governo de união nacional - que daria aos militantes islâmicos e aliados o poder de veto sobre decisões-chave. Os EUA temem que uma instabilidade possa levar à queda de Siniora.

Washington acusa o Irã e a Síria de dar apoio, armas e treinamento aos militantes do Hezbollah - que travaram 34 dias de guerra com Israel no meio do ano - e as declarações de ontem põem em dúvida qualquer disposição do governo do presidente George W. Bush de considerar Teerã e Damasco potenciais parceiros sobre o futuro do Iraque, uma idéia que uma comissão de especialistas americanos deve sugerir. O grupo bipartidário de Estudo no Iraque, que considera a estratégia futura no país para os formuladores da política americana, é liderado pelo ex-secretário de Estado James Baker.

AJUDA SÍRIA

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, enviou um assessor de política externa, Nigel Sheinwald, a Damasco para pressionar a Síria - que teria influência sobre os rebeldes no Iraque - a adotar uma posição mais construtiva e ajudar na estabilização do país vizinho.

A reunião, a primeiro de alto nível entre Londres e Damasco desde a invasão do Iraque, em março de 2003, ocorreu enquanto EUA e Grã-Bretanha buscam meios de reduzir a violência no país do Golfo Pérsico. Mas, Londres rejeitou a sugestão de que a iniciativa foi parte de um esforço coordenado entre EUA e Grã-Bretanha para pressionar os vizinhos do Iraque a ajudar nas questões de segurança, permitindo a retirada das forças de coalizão.